Partido de Abiy Ahmed ganha eleições na Etiópia com maioria esmagadora
Partido do primeiro-ministro conquistou 410 lugares dos 436 do Parlamento federal. Três dos dez distritos eleitorais não votaram, pelo que há alguns deputados por eleger.
No primeiro grande teste ao primeiro-ministro, Abiy Ahmed, desde que subiu ao poder em 2018, as previsões para as eleições na Etiópia, que decorreram no mês passado, vieram a concretizar-se. O Partido da Prosperidade, de Abiy, ganhou as eleições com uma esmagadora maioria, garantindo um segundo mandato ao líder etíope.
A Comissão Eleitoral anunciou os resultados na noite de sábado: o Partido da Prosperidade conquistou 410 lugares dos 436 que constituem o Parlamento federal. Os partidos da oposição apenas elegeram 11 deputados e alguns lugares ficaram por eleger, uma vez que as eleições não decorreram em todo o país por razões logísticas ou devido a tumultos.
Para a correspondente da Al-Jazeera na Etiópia, Catherine Soi, a vitória do partido da Prosperidade “não foi surpresa”, uma vez que o partido de Abiy “tem liderado desde o seu início”. Soi refere-se ao nascimento da formação política em 2018, depois do desmantelamento da anterior coligação governativa, então liderada pelos líderes tigré, um dos primeiros pontos de atrito entre o Governo central e a região Tigré.
Mas a grande vitória do seu partido torna mais difícil responsabilizar o primeiro-ministro e o seu Governo, algo que preocupa os especialistas, refere a Soi. Segundo os analistas ouvidos pela jornalista, é possível que mais membros da oposição se desloquem “para fora do Parlamento”.
Teste para Abiy
O primeiro-ministro Abiy ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2019 pelos seus esforços para conseguir um acordo de paz com a Eritreia e assumiu políticas reformistas, juntamente com uma tentativa de pacificar partidos e milícias. Porém, os críticos acusam-no de estar a retroceder nas suas promessas e na sua posição democrática.
Abiy ficou debaixo de fogo internacional quando, em Novembro do ano passado, lançou uma ofensiva contra a Frente de Libertação do Povo Tigré, resultando num conflito que fez milhares de mortos, dois milhões de deslocados e que causou uma enorme crise humanitária na região. Foi em torno destas eleições, adiadas em Agosto a pretexto da pandemia, que o conflito começou.
Numa partilha no Twitter, Abiy celebrou as eleições como tendo sido historicamente inclusivas, manifestando o contentamento do partido por ter “sido escolhido pela vontade das pessoas para administrar o país”. Segundo a Comissão Eleitoral, mais de 90% dos mais de 37 milhões eleitores votaram. A dirigente eleitoral Birtukan Mideksa considera que foram realizadas “eleições credíveis”, apesar das dificuldades da organização, refere a Al-Jazeera.
Contudo, três dos dez distritos eleitorais não votaram, por razões logísticas ou tumultos, como é o caso da região Tigré. Além disso, várias figuras da oposição foram detidas e surgiram relatos de intimidações, que levaram os Estados Unidos e a União Europeia a questionarem a independência e credibilidade das eleições.
Já nas regiões de Harar e de Somali as eleições foram adiadas para Setembro devido a questões de segurança e defeitos nos boletins de voto. Para a região Tigré não foi avançada nova data.
Apesar dos resultados, Tegbaru Yared, investigador do Institute for Security Studies, que se dedica ao estudo de África, escreveu esta semana que as “profundas divergências políticas” não foram atenuadas. Mas, se o Partido da Prosperidade conseguir focar-se “em estabilizar o país, terminar com os conflitos intercomunitários, gerir a inflação, dialogar com a oposição e iniciar um diálogo nacional inclusivo” pode ganhar “legitimidade popular”.