Patrícia Portela: “Este livro é uma descida aos infernos. O que é que estamos a fazer?”

Num território imaginário, Patrícia Portela especula sobre a corrente em que nos estamos a deixar ir e as possibilidades que ela reserva quando um mal atinge a geração que devia aprender a usar o alfabeto enquanto ferramenta para pensar. Esta é uma conversa a propósito de Hífen, o seu mais recente livro, o mais político e talvez mais literário, difícil de catalogar. É a crise no território da utopia.

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ADRIANO MIRANDA

Não terá sido no início de tudo, mas quase. A imagem de uma mesa posta para dois. Pratos, copos, talheres, cadeiras, comida, uma garrafa de vinho. Tudo a passar sobre corrente de um rio. “Este livro era um jantar flutuante”, diz Patrícia Portela, enquanto descreve essa memória que talvez tenha sido uma visão, ou ilusão. Ela aposta que aconteceu há uns anos, numa cidade da Suíça. “Era uma obra de arte e não esqueço a imagem lindíssima, uma mesa pronta. Há anos que quero escrever esse texto e ele vai sendo adiado”, continua a escritora que começou a publicar em 1998. No seu mais recente livro cria um território também levado por uma corrente, metáfora de uma Europa que já foi utopia e agora é o quê? Essa é apenas uma das perguntas feitas em Hífen, traço de ligação, de união, “união de duas palavras para que a palavra resultante seja mais do que a junção das duas que a compõem”, lê-se na espécie de prefácio a uma obra difícil de catalogar, desafiante de sentidos, de atenção, instigadora, o contrário de letárgica.

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