Comando de 26 colombianos e dois americanos nascidos no Haiti envolvido no assassínio do Presidente
Suspeitos incluem pelo menos seis ex-soldados colombianos. Com 17 detidos, continuam as buscas por oito dos envolvidos e a investigação para descobrir o motivo do atentado e quem o ordenou.
“Vieram estrangeiros ao nosso país para matar o Presidente”, afirmou o chefe da polícia do Haiti, Charles Leon, enquanto fazia desfilar perante os jornalistas em Port-au-Prince 17 homens capturados, parte de um comando fortemente armado. Outros três foram mortos e oito ainda estão em fuga, esclareceu Charles, dois dias depois do brutal assassínio do Presidente, Jovenel Moïse. Alguns atacantes agora identificados serão soldados colombianos retirados.
“Eram 26 colombianos, identificados pelos seus passaportes, e ainda dois haitianos americanos”, disse Charles numa conferência de imprensa. Entre os capturados estão 15 colombianos e os dois cidadãos norte-americanos que nasceram no Haiti. A polícia exibiu ainda vários passaportes colombianos, assim como espingardas de assalto, machetes e walkie-talkies, para além de ferramentas como alicates e martelos, usados no ataque que vitimou o Presidente.
Segundo o Governo na Colômbia, que se ofereceu para ajudar o Haiti na investigação, pelo menos seis dos atacantes seriam ex-membros do seu Exército. O Departamento de Estado dos Estados Unidos afirma que não ainda tem dados para confirmar se algum dos detidos é cidadão do país.
O ataque foi lançado ao início da madrugada de quarta-feira na residência de Moïse, em Pelerin 5, um subúrbio abastado da capital, Port-au-Prince. Segundo informações obtidas junto da polícia pelo jornal local Gazette Haiti, o chefe de Estado, de 53 anos, foi atingido com 12 balas em várias partes do corpo. Também a primeira-dama, Martine, foi gravemente ferida, mas já se encontra fora de perigo num hospital da Florida.
As autoridades perseguiram alguns dos suspeitos até uma casa nas proximidades e a batalha que ali se iniciou na quarta-feira de manhã continuou pela noite – as primeiras detenções só aconteceram na quinta-feira.
Onze dos suspeitos foram detidos depois de procurarem refúgio na embaixada de Taiwan, que fica perto da residência onde Moïse foi morto, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros taiwanês num comunicado. O “grupo de suspeitos armados” foi descoberto na quinta-feira e o Governo haitiano foi avisado, com Taiwan a permitir “sem hesitação” o acesso da polícia.
Luta contra oligarcas
Com muito ainda por apurar sobre este atentado, o primeiro-ministro interino, Claude Joseph, disse à BBC que o Presidente pode ter sido atacado por estar a lutar contra “oligarcas” no país das Caraíbas, o mais pobre do continente americano.
O que já se sabe é que o grupo enviado para matar Moïse tinha meios, dispondo de mais de seis carros e de muito equipamento.
O assassínio acontece quando o Haiti vivia já uma vaga de violência, com uma forte contestação a Moïse e protestos permanentes, acompanhados de batalhas entre gangues e entre estes e a polícia pelo controlo das ruas da capital. A legitimidade do chefe de Estado estava ferida de morte – o Presidente governava por decreto desde que dissolveu o Parlamento, em Janeiro de 2020, e grande parte da oposição acredita que o seu mandato acabou em Fevereiro – e os haitianos enfrentavam já escassez de alimentos.
Na quinta-feira, uma multidão reuniu-se diante da esquadra onde os suspeitos estavam detidos. Os ânimos exaltaram-se e alguns carros foram incendiados. O estado de emergência foi declarado pelo primeiro-ministro interino pouco depois do assassínio e continua em vigor.