9 de Julho, o dia da glória suprema de Mark Cavendish
O inglês fez história na Volta a França e tornou-se, a par de Eddy Merckx, o recordista de vitórias em etapas no Tour. Cavendish estava “morto” para o ciclismo, mas “ressuscitou” a tempo de ser o novo rei da prova francesa. 9 de Julho não foi só mais um dia de ciclismo.
Senhoras e senhores, uma salva de palmas para o novo recordista de vitórias na Volta a França. A partir desta sexta-feira, 9 de Julho, o lendário Eddy Merckx já não é o “rei do Tour” a solo – agora, o trono é para dois. Mark Cavendish alcançou na etapa 13 a 34.ª vitória em etapas da “Grande Boucle” e igualou o recorde do ex-ciclista belga.
E agora? Agora ainda sobram pelo menos duas etapas desenhadas para um final ao sprint, nas quais o ciclista inglês, de 36 anos, poderá tornar-se, isolado, o ciclista que mais vezes ergueu os braços no Tour.
Esta história estava escrita no início da etapa desta sexta-feira – para a qual as casas de apostas, pela falta de sprinters de topo, davam amplo favoritismo a “Cav”, pagando 5/2 –, mas, há uns meses, todos ririam de quem colocasse Cavendish (30 vitórias) a bater o recorde de Merckx (34).
O britânico estava “morto” para o ciclismo. Sem vitórias, sem brilho, sem velocidade, sem confiança e sem crédito. O PÚBLICO constatava-o em Abril, quando falava do início da ressurreição de “Cav”.
Há uns meses, esse renascimento do “míssil” da Ilha de Man parecia utópico e o recorde de mais vitórias na Volta a França, nas mãos de Eddy Merckx, impossível de alcançar. Já está alcançado, com quatro triunfos neste Tour 2021, e Cavendish tem tudo para o bater.
No final da etapa, Cavendish mostrou-se emocionado e, sobretudo, esgotado. “Estou tão morto… 220 quilómetros neste calor, com este vento”, apontou. Depois, teve de responder sobre o recorde de vitórias, assunto sobre o qual tem evitado falar.
“É inacreditável. Durante todo o dia os rapazes trabalharam bem e foram incríveis. Mas ainda não interiorizei bem. No fundo, é só mais uma vitória, igual à primeira. Ganhei mais uma etapa, que era o que sonhava em miúdo. Se cada uma das minhas vitórias puder inspirar crianças, isso é o melhor para mim”.
Em suma, Cavendish desvalorizou o recorde – “foi só mais uma vitória” – e pareceu extraordinariamente calmo para quem tinha acabado de se tornar, a par de Merckx, o melhor de sempre.
Deceuninck controlou a etapa
Quem diria que se história seria feita no final de uma etapa bastante aborrecida? Nesta etapa 13 ficou claro desde início que a Deceuninck queria um dia calmo e com final ao sprint. Tim Declerq e Kasper Asgreen encabeçaram o pelotão deste o primeiro quilómetro e controlaram a fuga do dia – de três elementos – durante toda a etapa.
Só a cerca de 60 quilómetros do final o trabalho da Deceuninck foi perturbado. Os ventos laterais seduziram alguns ciclistas a tentarem cortes no pelotão e a fuga foi rapidamente neutralizada.
Quando a corrida parecia a caminho de se tornar totalmente aberta, uma queda no pelotão esfriou os ímpetos – apesar de ter tido Declerq, “o tractor”, apanhado na queda, este incidente foi música para os ouvidos da Deceuninck, que pôde voltar a ter a corrida tranquila que lhe convinha.
Um problema mecânico com Cavendish ainda fez soar alarmes, mas o sprinter, descontando o esforço feito para se recolocar no pelotão, não sofreu consequências.
Na chegada a Carcassone, o “comboio” da Deceuninck foi, como habitualmente, perfeito. Davide Ballerini e Michael Morkov deixaram Cavendish no sítio e momento certos e o britânico sprintou "tranquilamente” para um triunfo claro. Morkov (Deceuninck) e Jasper Philipsen (Alpecin) completaram o pódio.
Entre os favoritos ao triunfo no Tour não existiram percalços, com os ciclistas a chegarem agrupados no pelotão. Tadej Pogacar segue líder, com 5m18s de vantagem para Rigoberto Urán e 5m32s para Jonas Vingegaard.
Para este sábado está marcada uma etapa presumivelmente animada. Há alguma montanha, mas não de dureza extrema, pelo que poderá ser dia para vingar uma fuga.
Vários tipos de ciclista poderão vencer num dia como este, começando por bons finalizadores como Wout van Aert ou Michael Matthews, passando por puncheurs como Julian Alaphilippe, Jasper Stuyven, Philippe Gilbert ou Matej Mohoric e acabando em trepadores como Rúben Guerreiro, Alejandro Valverde ou Sergio Higuita. Amanhã dá para tudo.