Ministério Público tenta explorar relação com José Guilherme no primeiro dia de julgamento de Salgado
Ex-gestor de fortunas disse desconhecer relacionamento entre empreiteiro da Amadora e banqueiro.
O Ministério Público tentou explorar a relação de Ricardo Salgado com o construtor civil José Guilherme no primeiro dia de julgamento do ex-banqueiro – que invocou os seus quase 77 anos de idade para não estar presente no Campus da Justiça, em Lisboa.
Em causa está não a prenda de cerca de 14 milhões de euros que o empreiteiro da Amadora ofereceu ao então Dono Disto Tudo, supostamente por este o ter ajudado a entrar no mercado angolano, mas sim outra vultuosa transferência bancária que teve Ricardo Salgado como destinatário, proveniente de uma firma controlada por José Guilherme.
O banqueiro e o construtor civil eram ambos clientes da Akoya, a sociedade gestora de fortunas com sede na Suíça. A 7 de Março de 2012, uma entidade intitulada Semeta Group transferiu, através de uma conta que tinha no Credit Suisse de Singapura, 1,5 milhões de dólares para uma firma intitulada Begolino, pode ler-se na pronúncia da Operação Marquês.
“O arguido Ricardo Salgado fez constar que este movimento tinha subjacente um retorno de fundos, relacionado com investimento imobiliário em Angola”, refere o mesmo documento. Os investigadores descobriram que o Semeta Group pertencia à família do construtor civil e a Begolino ao então banqueiro.
Interrogado esta terça-feira em tribunal pelo procurador Vítor Pinto, um dos sócios da Akoya, Michel Canals, antigo gestor da fortuna de Helder Bataglia na Suíça, disse que José Guilherme não era seu cliente, embora fosse possível que os seus dinheiros fossem geridos por de um dos seus colegas – razão pela qual desconhecia o que quer que fosse sobre o relacionamento entre o empreiteiro e o banqueiro.
Hélder Bataglia é o luso-angolano sócio da Escom em Angola, e cuja conta recebeu e transferiu milhões para Ricardo Salgado. E foi ele também a incriminar Ricardo Salgado perante as autoridades, num interrogatório judicial que teve lugar em Janeiro de 2017. Na contestação que apresentou em tribunal, o ex-Dono Disto Tudo diz que os 15 milhões de euros que recebeu em 2010 da ES Enterprises, tido como o saco azul do BES, se destinavam a pagar os serviços que prestou ao grupo quer na obtenção de direitos de exploração de petróleo que viessem a ser objecto de concessão, nomeadamente na região do Soyo, quer na exploração de quaisquer direitos atribuídos através de concessões na República do Congo, bem como na identificação e negociações de negócios imobiliário e ainda na expansão do sector financeiro do GES em África.