O senhor Ali na sua lojinha de Tabriz

A lojinha transformava-se ao fim da tarde no lugar mais cosmopolita de Tabriz. E o senhor Ali, quase sempre em silêncio, o olhar tímido e frágil de menino que leu Hafez e Omar Khayyam, erguia a cafeteira e vertia nas chávenas o seu chá forte e picante. “Eu e a minha loja estamos muito felizes por nos ter vindo visitar.”

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Tabriz, no Norte do Irão. O senhor Ali verte devagar o chá da cafeteira para três pequeninas chávenas de vidro. Em silêncio, sem uma palavra, erguemos as chávenas e brindamos. Os olhos meigos, quase infantis, do senhor Ali, por baixo do seu eterno gorro, bastam para definir a tonalidade deste fim de dia numa ruela antiga de Tabriz. Permanecemos em silêncio um longo tempo, ouvimos a chuva de Novembro cair lá fora, o senhor Ali atende o telefone; percebe-se pela voz e pela brandura do olhar que está a responder afirmativamente. Depois, já as chávenas de chá estão vazias, o senhor Ali ergue de novo a cafeteira e faz um sinal subtil, quase imperceptível, com os olhos, arqueando ao mesmo tempo as sobrancelhas – parece um impossível passe de mágica na arte da comunicação. E voltamos a saborear aquele chá de gengibre forte e picante neste fim de tarde de chuva numa ruela antiga de Tabriz. Foi assim durante uma semana, como se ali reeditássemos um hábito de séculos, um ritual inscrito nas práticas do persa Zoroastro ou nas páginas milenares dos Upanishads.

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