Autoeuropa admite layoff em Julho por falta de chips
Fábrica de Palmela está novamente parada neste fim-de-semana, devido à escassez de semicondutores. Na segunda quinzena de Julho, a solução pode ser o layoff.
A Autoeuropa admitiu na sexta-feira que “existe uma grande hipótese de entrar em layoff na segunda quinzena de Julho” devido à falta de semicondutores que tem obrigado a paragens na produção.
Segundo a Comissão de Trabalhadores (CT), que se reuniu com os sindicatos representados na empresa, a Autoeuropa revelou que, caso se confirme o recurso ao layoff, não irá garantir a totalidade dos salários, como fez em 2020 quando recorreu ao layoff simplificado durante o primeiro confinamento.
Agora, caso tenha de parar de forma mais prolongada devido à falta de chips, a administração vai limitar-se a “aplicar a legislação do layoff geral, pagando apenas 66% do rendimento mensal ilíquido, com subsídio de turno incluído”. Na paragem forçada de Março de 2020, quando o layoff simplificado garantia apenas dois terços da remuneração base, a Autoeuropa cobriu o remanescente para garantir que os trabalhadores não perdessem rendimento
A falta de semicondutores tem afectado a produção automóvel em todo o mundo. Em Portugal, tanto a Autoeuropa (Volkswagen) como a PSA Mangualde (Peugeot Citroën) já se viram forçadas a interromper a laboração.
Os microprocessadores, ou chips, são usados em diferentes sistemas e circuitos em modelos actuais, desde o sistema de entretenimento a bordo ao controlo de sensores. O problema afecta outras indústrias, como a electrónica de consumo, e reside na incapacidade de fornecer a crescente procura de semicondutores.
A procura disparou com a pandemia, devido ao aumento mundial nas vendas de computadores e equipamentos electrónicos com o teletrabalho, mas a oferta de chips é muito menos elástica, porque a produção mundial está concentrada em dois ou três países asiáticos (Taiwan, Coreia do Sul e China) e expandir fábricas ou construir novas exige anos de investimento.
Em Palmela, a Autoeuropa já tinha parado uma semana em Março, devido à falta destes componentes, e voltou a fazê-lo por nove dias em Junho. A laboração foi retomada na passada quarta-feira, mas neste sábado voltou a ser interrompida, por dois dias, sempre pela mesma razão.
Os dias de paragem têm sido contabilizados como down days, mas esgotado este mecanismo de flexibilidade laboral assente em dias de não-produção, e como a escassez de chips persiste, a administração da fábrica, onde trabalham cerca de 5200 pessoas, já tinha admitido o layoff como solução futura.
A empresa está desde Janeiro a trabalhar sem um acordo laboral. As negociações encetadas no fim do primeiro trimestre deram origem a um pré-acordo entre a administração e a CT.
Esse entendimento previa a substituição de aumentos em 2021 por um prémio de 500 euros e aumentos salariais de 1,7% em 2022 e 1,2% em 2023. O aumento salarial mínimo seria de 25 euros para os salários mais baixos. Porém, o pré-acordo foi rejeitado por 84,2% dos trabalhadores que votaram no referendo de Maio, que teve uma participação eleitoral de 78,1%.
Desde então não houve mais negociações, segundo disse fonte sindical ao PÚBLICO.
Segundo a empresa, desde o início de 2021 até meados de Junho tinham sido cancelados 57 turnos de trabalho devido à escassez de semicondutores. Tais paragens corresponderam a menos 17.340 carros produzidos.
Esse número equivale a cerca de 29% da quebra de produção provocada pela pandemia em 2020. Nesse ano, a empresa produziu menos 65 mil veículos face a 2019 e menos 58 mil do que o previsto em Janeiro de 2020, antes da pandemia.