Vagas de calor como a que assolou o Canadá devem vir a ser mais frequentes e intensas

Este tipo de vaga de calor são um aviso alarmante dos efeitos que estão por vir, de forma mais frequente e extrema, devido às alterações climáticas, alertam os especialistas.

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Um homem refresca-se para fugir ao calor extremo, na província da Colúmbia Britânica, Canadá JENNIFER GAUTHIER/Reuters

O Sudoeste do Canadá e o Noroeste dos EUA têm sido atingidos nos últimos dias por uma “cúpula de calor”, um evento climático raro que causa calor extremo. Só em Vancouver fez 134 mortos desde sexta-feira. Contudo, os especialistas prevêem que mais vagas de calor atinjam mais regiões à medida que o clima for mudando. Esta vaga deixa o aviso: este tipo de fenómeno não deverá ser o último, nem o mais intenso.

Entre os especialistas parece haver alguma certeza de que as alterações climáticas desempenharam um papel na intensidade do fenómeno que pôs o Noroeste do continente americano a arder. Esta “cúpula de calor” resulta da combinação de altas pressões que retêm o ar quente junto aos solos, aumentando ainda mais as temperaturas, um efeito semelhante a uma panela de água tapada ao lume.

Além de ser um fenómeno raro, foi mais surpreendente ter ocorrido mais cedo do que as normais vagas de calor. O que torna o evento tão perigoso é a sua intensidade e duração, aumentando o risco de incêndios e a deterioração dos terrenos agrícolas. Mesmo quando as temperaturas baixarem, o calor deve ficar nas zonas interiores e há probabilidade de surgirem tempestades e relâmpagos.

Impacto das alterações climáticas

Para os cientistas, o caso da “cúpula de calor” mostra o impacto das alterações climáticas. Devido ao aumento da emissão de gases com efeito de estufa causado pela actividade humana, os eventos climáticos devem ser mais frequentes e mais extremos.

Karin Bumbaco, a vice-climatologista do estado de Washington, afirma ser “uma suposição segura culpar, pelo menos em parte, o aumento dos gases com efeito de estufa" pela “cúpula de calor”, disse ao New York Times

“Podemos dizer que eventos climáticos extremos estão a acontecer com mais frequência à medida que o clima vai mudando, e vão acontecer ainda mais”, disse também ao diário Erica Fleishman, directora do Oregon Climate Change Research Institute, da Universidade de Oregon. “Esta onda de calor é extraordinária, mas não deve ser a última”, concluiu.

As cidades e zonas urbanas estão menos preparadas para responder ao calor. No Canadá e EUA a solução foi parar as cidades mais afectadas. Escolas e centros de vacinação contra a covid-19 foram fechadas, tal como foram canceladas as actividades exteriores, incluindo acontecimentos desportivos e, em Portland, no estado de Oregon, os transportes públicos foram parcialmente suspensos.

Sobretudo em locais onde o clima é tipicamente ameno, como é o caso o Noroeste do continente americano, nem as casas, nem as infra-estruturas, estão preparadas para tanto calor. Em consequência disso, estes fenómenos acabam a afectar desproporcionalmente quem vive em aéreas mais desfavorecidas, sem espaços verdes, além de aumentar os riscos das pessoas com problemas de saúde.

Segundo a revista The Economist, as vagas de calor matam mais pessoas do que as piores inundações ou furacões. Só em Vancouver, desde sexta-feira registaram-se 134 mortes súbitas devido ao calor, num total de 233 mortos.

Previsões climáticas

Aliás, há anos que são feitas previsões para os efeitos nefastos das alterações climáticas. Há menos de duas semanas, vários especialistas ouvidos pelo Guardian alertaram para a seca severa que se alastrou pelos EUA, potencialmente a pior nos últimos 1200 anos, de acordo com Kathleen Johnson, paleoclimatologista da Universidade da Califórnia. Nesse aviso, vários cientistas climáticos confirmaram a verosimilhança das previsões climáticas que têm sido feitas ao longo dos anos: o planeta está a começar a arder – em alguns casos, de forma literal.

Katharine Hayhoe, cientista ambiental na Universidade de Tecnologia do Texas, citando vários estudos e relatórios governamentais, revelou que o Canadá está a aquecer ao dobro do ritmo do resto do mundo. E os recordes de temperaturas altas mensais foram quebrados três vezes mais do que os recordes mínimos.

“Trabalho com projecções climáticas há 25 anos e sabíamos que isto era iminente: mas continua a ser um choque ver estes recordes a serem registados na nossa terra natal”, partilhou Hayhoe no Twitter, natural do Canadá.

Também noutros locais do globo se têm feito sentir temperaturas de quebrar recordes no último mês. Países como o Iraque, Kuwait, Oman, Emirados Árabes Unidos e o Paquistão estão a ser atingidos por vagas de calor. E mais países deverão passar pelo mesmo.

Por isso, os especialistas reforçam a importância de continuar a pressionar a adopção de acções climáticas e de “comunicar com o público que as alterações climáticas já chegaram”, nas palavras de Hayhoe.

Se não forem reduzidas drasticamente as emissões dos gases de efeito estufa nos próximos anos, este tipo de onda de calor não será a nova normalidade, mas antes uma previsão alarmante dos efeitos que estão por vir, alertou o Washington Post.

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