Metas sobre imunidade de grupo têm de ser “revistas e actualizadas”, diz ministra da Saúde

Marta Temido diz que houve uma “entrada precoce” da variante Delta em Portugal. Estirpe teve “subida galopante” no país, diz Insa.

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O índice de transmissibilidade (Rt), “apesar de estar a ceder ligeiramente” no país ainda é “muito elevado” Ricardo Lopes

A ministra da Saúde defendeu esta terça-feira que as metas sobre a imunidade de grupo à covid-19 têm de ser “revistas e actualizadas” face à dinâmica da transmissão da infecção e a emergência de novas variantes como a Delta.

O mais recente relatório de situação sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa)​, revela que a variante Delta, associada inicialmente à Índia, teve “uma subida galopante” na frequência relativa a nível nacional, mas a sua distribuição “é ainda muito heterogénea entre regiões”.

Questionada à margem da cerimónia de inauguração da Nova Ala do Serviço de Radioterapia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, sobre esta situação a ministra afirmou que a variante Delta inspira “bastante cautelas e cuidados” e constitui “um motivo de preocupação.

“Portugal (...), infelizmente, tem tido uma entrada precoce desta variante e, portanto, nós estamos agora com os nossos números diários a mostrarem aquilo que é um aumento do número de novos casos”, com cerca de 1.300 por dia nos últimos sete dias”, afirmou.

Além disso, o índice de transmissibilidade (Rt), “apesar de estar a ceder ligeiramente” no país ainda é “muito elevado”, acima de 1 há mais de 30 dias, o que, segundo a ministra, deixa o país numa situação “especialmente frágil” e a precisar do “comportamento de todos”.

Para Marta Temido, a vacinação pode ajudar a conter os casos e a infecção nas pessoas mais vulneráveis, mas advertiu que “mais casos” vão levar a que “a mesma fracção percentual” desse maior número de casos precise de hospitalização e eventualmente de cuidados intensivos e tenham “um desfecho fatal”.

A propósito da possível revisão da percentagem de vacinados para atingir a imunidade de grupo, que é estimada em 70% da população em Portugal, afirmou que “as informações sobre quando será atingida a imunidade de grupo têm de ser revistas e actualizadas face àquilo que é a própria dinâmica da transmissão da infecção e a emergência de novas variantes”.

“Neste momento, o que se sabe é que a variante Delta é mais agressiva quando existe apenas uma dose de vacina administrada. Também sabemos que não basta ter a administração das duas doses de vacina, é necessário que haja um período de tempo que passe sobre a segunda administração”, elucidou.

Salientou ainda que a vacinação confere uma probabilidade de “maior protecção”, mas que “não é por si só” uma garantia de que as pessoas não possam ser infectadas, devendo por isso serem mantidos todos os comportamentos de protecção pela população, que se deve capacitar que o terá que fazer por “um período ainda mais longo”.

Questionada sobre a possibilidade de a vacina contra a covid-19 ser integrada no programa nacional de vacinação, a ministra referiu que Portugal, como os demais países da União Europeia, acordaram a necessidade de realizar uma compra conjunta de vacinas para 2022 e para 2023, de cerca de 900 milhões de doses, o que leva a estimar que sejam necessárias mais revacinações.

“Admite-se que pessoas que tenham uma imunidade mais frágil, os mais idosos, possam precisar mais de uma repetição da vacina do que outros, mas, uma vez mais, não podemos esquecer-nos que estamos a falar de um vírus novo, de uma doença nova, de uma vacina nova e que as respostas pelas quais ansiamos precisam de tempo para ser formuladas pela ciência”, declarou.

Sobre as críticas de autarcas de pessoas que faltam ao agendamento da vacinação e se este comportamento pode comprometer a imunidade da população, Marta Temido reconheceu ser uma situação que preocupa.

“Naturalmente [que as faltas] nos preocupam, porque uma oportunidade de vacinação nunca deve ser desperdiçada seja com a vacina contra a covid.19 seja em relação a qualquer outra vacina”, vincou.

Segundo a ministra, o que se está a notar é que as faixas etárias mais jovens têm “menor percepção do risco” e, como tal, “têm maior reacção à oportunidade da vacinação”, uma situação que cabe a todos esclarecer que “é uma oportunidade perdida”, que deve ser contrariada.