Ciclista grávida atropelada mortalmente na Avenida da Índia, em Lisboa

O acidente, entre uma bicicleta e um veículo ligeiro, provocou a morte de uma investigadora e professora auxiliar do Instituto Superior Técnico.

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Adriano Miranda

A colisão, neste sábado, de um veículo ligeiro contra uma bicicleta resultou na morte da ciclista, que estava grávida. A vítima, de 37 anos, seguia de bicicleta na Avenida da Índia, quando se deu o acidente. Foi transportada para o hospital de S. José em estado muito grave, acabando por morrer no próprio dia. O acidente ocorreu na zona do viaduto de Belém na Avenida da Índia. De acordo com o site Lisboa Para Pessoas, o condutor do veículo não terá visto a ciclista na estrada por estar encandeado pelo sol.

Em 2020, a Câmara de Lisboa anunciou a construção de 16 ciclovias e uma dessas seria na Avenida da Índia. No entanto, de acordo com a autarquia, “a avenida tinha e tem prevista uma ciclovia que termina a alguns metros da zona do acidente”, nomeadamente junto à bomba de gasolina da Galp, seguindo depois pela Rua Fernão Mendes Pinto até Algés.

A vítima, investigadora em Engenharia de Materiais e professora auxiliar convidada do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, estava grávida de quatro meses e tinha chegado a Portugal há 14 anos, vinda de Itália.

A ocorrência tem provocado uma elevada indignação nas redes sociais, por parte de ciclistas e colegas da vítima. Foi Américo Silva, ciclista, quem divulgou nas redes sociais a imagem do carro e da bicicleta envolvidos na ocorrência. Na sua página de Facebook, o ciclista afirma que vai “criar uma Comissão Independente para levar o problema da segurança dos ciclistas à Assembleia da República”.

Ao Lisboa Para Pessoas, Américo afirma que vai “tentar recolher o número de assinaturas necessárias de forma a que o Estado ajude na sensibilização dos automobilistas para as novas regras do Código da Estrada e também uma maior fiscalização e punição para os infractores”. O ciclista esteve no local do acidente e confessa que o que uma das coisas que lhe “chamou a atenção foi a violência do embate”.

O próprio ciclista, em Maio do corrente ano, foi vítima de um atropelamento em Cascais enquanto se deslocava de bicicleta. 

Também Rosa Félix, investigadora no IST e activista pela mobilidade ciclável, se manifestou: “Todo o cuidado é pouco, e o mais frágil acaba por ser o que paga”, afirma. Rosa acrescenta que “juntar pessoas a diferentes velocidades no mesmo canal acaba por correr mal. Não é suposto andar-se com medo em cima de uma bicicleta. Precisamos de mais segurança...”. A MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Lisboa apresentou na sua página dados estatísticos relativos a velocípedes em 2019 e interrogou-se “até quando vamos permitir isto?”.

O grupo Vizinhos de Belém, também emitiu uma nota de pesar. A associação de moradores da freguesia, refere que a Avenida da Índia tem sido “um dos eixos rodoviários mais debatidos em diversas reuniões de trabalho, nomeadamente com a Câmara Municipal de Lisboa”.

Para o grupo, a evolução passa por um processo de humanização do eixo, que “tem sido sistematicamente adiado”. Os Vizinhos de Belém referem ainda que em 2020 lançaram uma petição pública para “acelerar a implementação da Ciclovia da Avenida da Índia”, na qual foram recolhidas mais de 700 assinaturas.

O acidente de dia 26 ocorreu cerca de um ano após o atropelamento de uma jovem basquetebolista do Sporting Clube Portugal, que atravessava uma passadeira no Campo Grande, também em Lisboa, levando a bicicleta pela mão. 

De acordo com o Relatório de Segurança Rodoviária da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, em 2019 faleceram 26 ciclistas e registaram-se 106 feridos graves. Os dados adiantam ainda que estiveram envolvidos em colisões 1.563 velocípedes. Lisboa ficou registada como o distrito com mais sinistros.

Texto editado por Ana Fernandes

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