“Não começo a trabalhar em 2021 para ter uma medalha em 2024”
Os velejadores Jorge Lima e José Costa estão confiantes num bom resultado nos Jogos Olímpicos de Tóquio na classe 49er, mas lamentam o mau planeamento que existe no desporto em Portugal.
São dos mais experientes, competem juntos há uma dúzia de anos e foram os primeiros portugueses apurados para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Jorge Lima e José Costa vão, a partir de 27 de Julho, competir em Enoshima contra nomes grandes da vela mundial, como os neozelandês Peter Burling e Blair Tuke, mas, mesmo não tendo os “mesmos recursos e suporte” de alguns dos seus rivais, a dupla nacional mostra-se confiante num bom resultado na classe 49er: “A vela tem condicionantes não tão controláveis como noutras modalidades e isso deixa-nos uma porta aberta para acreditar que tudo é possível.”
Apurados para Tóquio desde 2018, a preparação de Jorge Lima e de José Costa para os Jogos Olímpicos acabou por ser muito condicionada pela pandemia, que forçou os dois velejadores a adaptar o seu plano de treinos.
José Costa reconhece que após um ano com longos períodos de confinamento, os dois atletas tiveram que se “reinventar” e “arranjar meios para não baixar os braços”, mantendo-se os dois “o mais activos possível”: “Temos muita experiencia no barco e adiar um ano esta competição fez com que tivéssemos que ir buscar motivação e frescura física e mental para continuarmos a praticar e a treinar a níveis altos durante mais 365 dias.”
Em conversa com o PÚBLICO, Jorge Lima acrescenta que um ano extra de preparação permitiu que se focassem “em pontos técnicos onde” queriam “fazer alterações”. Embora admita que na parte física seja preciso “um esforço adicional”, Lima, que vai participar pela terceira vez nos Jogos Olímpicos, garante que vai para o Japão com “bons feelings”.
Com experiência na prova – competiram junto nos 49er em 2016 no Rio de Janeiro -, Costa sublinha que nos “Jogos há sempre aqueles momentos imprevisíveis”. “Há sempre os candidatos crónicos, como os neozelandeses, os ingleses, os espanhóis, os alemães… Gente com muitos recursos e outra logística e suporte que a maioria não tem. É uma competição em que a regularidade é difícil de manter e por vezes há surpresas.”
Por isso, o velejador de Tavira considera que haverá “há 12 ou 13 países a lutarem pelos cinco primeiros lugares”, sendo que as condições “extremas” que por regra se fazem sentir no local da prova podem ser uma vantagem para Portugal: “São nos extremos que habitualmente nos sentimos confiantes. Somos conhecidos pela frota como os especialistas em vento fraco e quando as condições estão extremas, em que está uma selva montada e é o salve-se quem poder, pela experiência que temos dominamos bem o barco. Pode ser mais um factor de motivação extra.”
Jorge Lima coloca a participação na medal race como “um resultado numa perspectiva realista” e o “primeiro objectivo”, mas “a vela tem condicionantes não tão controláveis como noutras modalidades”, o que é “uma porta aberta para acreditar que tudo é possível”.
Sem saberem se esta será a última participação na competição, os dois atletas olímpicos lamentam em declarações ao PÚBLICO o apoio e o planeamento deficiente que existe em Portugal. José Costa adverte que “há uma grande lacuna para atletas olímpicos que não têm um clube por trás”, e que “devia haver uma actualização para que os atletas sejam mais bem pagos”. “Para estarmos no nível em que estamos, é impossível ter outras actividades”.
Para além da questão financeira, Costa dá ainda como exemplo a forma como se olha para o desporto em Portugal: “Ouvi há pouco uma noticia em que se dizia que o Governo já está a pensar em Paris 2024. Nós anunciamos para 24, os outros já começaram para 28. A preparação não é a quatro anos. Eu não começo a trabalhar em 2021 para ter uma medalha em 2024.”
Ouça a entrevista a Jorge Lima e José Costa aqui.