Entre a caricatura e o mito, há-de haver uma grande banda: The Doors
Ele estava lá em cima enquanto, cá em baixo, o olhava com espanto, admiração e, naturalmente, com algum temor, porque lá em cima era, afinal, as vigas de uma torre de electricidade que se erguia entre o verde. Lá em cima, ele, olhos semicerrados pelo haxixe, cabelos ao vento, pés presos na estrutura metálica, uma mão agarrada a ela, a outra livre para melhor exprimir as palavras com gestos, declamava palavra por palavra os versos e solilóquios desse épico psicadélico-xamânico-edipiano chamado The End. Ele lá em cima, colega um par de anos mais velho, quando um par de anos significava uma insuperável distância de vida e conhecimentos dos segredos da vida (e dos discos), gostava dos Doors, gostava muito dos Doors, como gostava muito do David Bowie glam, do Nick Cave, do Tom Waits, dos Velvet Underground, enfim, de coisas que ainda estavam por descobrir naquele período em que a música se começa a abrir perante nós, primeiro pouco a pouco, depois num jorro interminável. Ele era um caso raro.
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