Variante “Delta plus” que preocupa Índia é a já conhecida mutação nepalesa. Não tem “disseminação relevante” em Portugal
A mutação em causa é a K417N e, das últimas amostras sequenciadas pelo Insa, “apenas 3% tinham essa mutação adicional”. Esta é uma mutação da variante Delta, cuja prevalência é já de 70% na região de Lisboa e Vale do Tejo.
A Índia declarou na terça-feira que detectou uma nova variante de interesse do coronavírus SARS-CoV-2 – que está a ser designada “Delta plus” – e referiu que já foram identificados cerca de 20 casos no país. O investigador João Paulo Gomes confirmou ao PÚBLICO que esta é a mesma que ficou conhecida em Portugal como “mutação nepalesa”, na altura em que o Reino Unido a usou como justificação para retirar Portugal da “lista verde”, e adiantou que “não está a ter disseminação relevante nem no Reino Unido nem em Portugal”. Das últimas amostras sequenciadas pelo Insa, “apenas 3% tinham essa mutação adicional”.
A mutação em causa é a K417N. Nos vírus em que está presente, situa-se na proteína da espícula, que é responsável pela entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas. Foram detectados cerca de 90 casos da variante Delta com esta mutação no mundo, 12 deles em Portugal, segundo os dados fornecidos pelo Insa ao PÚBLICO no início de Junho. Haverá agora, pelo menos, 20 casos identificados desta mutação em Portugal, segundo a informação da base de dados pública GISAID.
Além de Portugal, esta mutação circula também nos Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Japão, França, Polónia, Nepal, China e Rússia. Já desde Abril que existem casos com esta mutação na Europa.
Esta mutação voltou a ter atenção mediática após terem sido identificados mais de 20 casos em três estados indianos, 16 deles no estado de Maharashtra, anunciou o secretário de Estado da Saúde, Rajesh Bhushan, numa conferência de imprensa na terça-feira. O Ministério da Saúde local referiu que esta variante apresenta maior risco de transmissibilidade e pediu aos estados que reforçassem a testagem. Há receio de que esta variante possa escapar à protecção concedida pelas vacinas desenvolvidas contra a covid-19.
Uma mutação da variante Delta
A agora designada “Delta plus” é uma mutação da variante Delta (também detectada pela primeira vez na Índia), que se estima ser mais transmissível e que já tem transmissão comunitária em Portugal.
O investigador João Paulo Gomes, do Insa, afirmou nesta terça-feira na RTP que a prevalência da variante Delta é já de 70% na região de LVT. No concelho de Lisboa, este valor estará “claramente acima de 70%”. Na região Norte – que antes tinha 15% de casos de infecção com esta variante –, o valor será agora de 20%.
A variante Delta (B.1.617.2) deste coronavírus foi identificada pela primeira vez no final de 2020 na Índia e acredita-se que terá contribuído significativamente para o número elevado de casos que o país registou durante a segunda vaga da covid-19. Os dados científicos indicam que a variante Delta é 60% mais transmissível do que a variante Alpha (associada anteriormente ao Reino Unido), que, por sua vez, era já entre 40 e 50% mais transmissível do que a estirpe original do SARS-CoV-2.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 21 de Junho, esta variante já se tinha espalhado por 92 países em todo o mundo (incluindo Portugal), com a OMS a alertar que a Delta se está a tornar globalmente dominante. O director da OMS para a Europa afirmou também que a estirpe está a caminho de se apoderar da região, numa altura em que muitos países se preparam para aliviar restrições e facilitar as viagens entre Estados-membros.
Um estudo de sintomatologia no Reino Unido, realizado através de respostas numa app, mostra que, além da tosse, febre e perda de olfacto e/ou paladar, aqueles que contraíram a variante Delta podem ter outros sintomas como dor de garganta, dor de cabeça e pingo no nariz, observando-se algumas semelhanças com os sintomas de uma constipação. com Filipa Almeida Mendes