Imune.pt, um site em português para acabar com as dúvidas sobre as vacinas
Instituto de Higiene e Medicina Tropical lança plataforma com informação para o público dedicada à imunização, sobre a covid-19, mas não só, com garantia de qualidade científica.
Apesar de se terem tornado um tema central do dia-a-dia com a pandemia, é fácil perdermo-nos no emaranhado de informação sobre as vacinas. “As pessoas perguntam: ‘Qual é a qualidade das vacinas?’, ‘que segurança é que a vacina nos dá?’, ‘que eficácia é que pode ter?’ Mas há bastante desinformação, fake news, desconfiança em relação à própria ciência”, analisa Filomeno Fortes, director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-Nova). A plataforma online Imune.pt, lançada esta quarta-feira pelo IHMT, pretende dar respostas e contribuir para dissipar a desinformação.
“O tema das vacinas marcou a agenda mediática com grande volume de informação, que confunde com bastante frequência o consumidor. Nós pensámos que era importante melhorar a literacia científica, combatendo as fake news, contrariando a informação transmitida por movimentos negacionistas e antivacinas”, explica Filomeno Fortes. E em português, com garantia de supervisão pelos cientistas do instituto ou de instituições científicas da sua rede, e com uma especial atenção à realidade dos países de língua portuguesa, como é vocação do IHMT.
“O objectivo desta plataforma é garantir a toda a comunidade que fala português informação correcta, idónea sobre vacinas, e não só sobre covid-19”, explica o director desta instituição criada em 1902. A covid-19 é prioritária, mas haverá informação sobre todo o tipo de vacinas. “Por exemplo, em Portugal de vez em quando temos verificado surtos de sarampo. Os papás não estão informados, não sabem os riscos que podem correr se não derem a vacina do sarampo aos filhos, e se o papá quiser ter informação sobre isso pode recorrer à nossa plataforma digital, até colocar questões.”
O site terá áreas onde é possível a interactividade com os utilizadores. “Temos seis áreas: uma é o ABC da vacinação, relacionada com as vacinas no geral; uma segunda é sobre covid-19, em que interagimos com as pessoas e passamos informação actualizada sobre a evolução da pandemia; outra área é de respostas directas, em que há interacção directa. Haverá uma área sobre o historial de epidemias desde os séculos passados até à actualidade. E há outra sobre descobertas, com notícias recentes sobre investigação, conteúdos com dados científicos que sejam fiáveis”, explica Filomeno Fortes.
O Imune.pt pretende ter um papel importante para disseminar informação nos PALOP. É grande a desinformação sobre vacinas nestes países? “A minha experiência é que temos nos PALOP índices de analfabetismo que podem ultrapassar os 40%. Isto por si só é um problema”, considera o médico angolano, que é o primeiro estrangeiro a ocupar a direcção do IHMT. “O segundo problema é que as coberturas sanitárias são baixas. O acesso à saúde não é tão facilitado, as pessoas não têm oportunidade de estar com um técnico de saúde e no mínimo fazerem algumas perguntas.”
Mas o factor com maior peso, diz, é a pobreza. “Muitos dos países africanos têm índices de pobreza acima dos 50% e então a população, na minha experiência, não está muito preocupada se a vacina é boa ou não é. Se tem oportunidade de levar uma injecção leva-a. É uma oportunidade para fazer qualquer coisa que em condições normais não tem recursos para fazer.”
Investigar variantes
O IHMT, fundado em 1902, nessa altura vocacionado para o estudo, ensino e clínica das doenças tropicais, evoluiu hoje para uma abordagem que vai desde o nível da biologia molecular até à análise dos sistemas globais de saúde. Com a covid-19, diz Filomeno Fortes, “assumiu o papel de interlocutor privilegiado no esclarecimento e disseminação de conhecimentos sobre a pandemia, sobretudo ao nível dos países africanos de língua oficial portuguesa [PALOP]”, disse Filomeno Fortes.
O Imune.pt destina-se ao público em geral, mas esse papel do IHMT durante a pandemia tem-se traduzido na formação de profissionais de saúde – através de webinars, por exemplo, em que se pode chegar a milhares de pessoas, que participam directamente ou assistem mais tarde, ou na colaboração em projectos de investigação sobre a covid-19 com os PALOP. “Fizemos formação em biologia molecular em técnicas de PCR online com esses países, contribuímos com equipamento. Por exemplo, em Angola ajudámos a montar um laboratório de biologia molecular com PCR numa província; em Moçambique colaborámos com a distribuição de meios de segurança”, diz Filomeno Fortes.
Os projectos de investigação conjuntos com PALOP passam por temas como compreender a prevalência da covid-19, ou a identificação de grupos vulneráveis, complicações associadas. “Estamos neste momento a entrar numa fase de estudar as variantes que possam estar a surgir nas comunidades, mas isto é mais difícil, porque as amostras a que temos acesso são de pouca monta, e não nos permitem um grande juízo”, explica o director do IHMT.