Fernanda Torres e a sua arte da escrita no Encontro de Leituras
A actriz e escritora brasileira estará em Julho à conversa no clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo, tendo como pretexto o seu segundo romance, A Glória e seu Cortejo de Horrores, que nos conta as desventuras de um actor.
Há uns anos, quando esteve no palco da Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil, pouco depois de lançar o seu primeiro romance, Fim, a actriz, escritora e cronista da Folha de S. Paulo Fernanda Torres contou que uma das coisas que a levaram até à literatura foi a crise que sentia no teatro e no cinema.
A actriz que conhecemos de séries de televisão como Os Normais ou Tapas e Beijos, de peças de teatro como o monólogo A Casa dos Budas Ditosos (adaptação que fez do livro de João Ubaldo Ribeiro) ou de filmes como Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), de Arnaldo Jabor, que lhe valeu o Prémio de Melhor Actriz do Festival de Cannes, ou Kuarup, de Ruy Guerra (1989), começou a escrever, à noite, como forma de escapar ao seu dia-a-dia.
Após o sucesso do seu romance de estreia, lançou no Brasil, anos depois, A Glória e seu Cortejo de Horrores, romance ambientado no universo do espectáculo e do entretenimento que conhece desde pequena e que retrata “uma geração que viu sua ideia de arte sucumbir ao mercado, à superficialidade do mundo hiper-conectado e, sobretudo, à derrocada de suas próprias ilusões”, como resume o site da editora Companhia das Letras. A personagem principal é um actor de meia-idade, Mario Cardoso, que depois de ter começado no teatro e no cinema independente se tornou um galã das telenovelas. Quando entrou em declínio, acreditou que se fizesse uma encenação da peça de Shakespeare onde interpretaria o Rei Lear conseguiria voltar a dar uma volta na sua carreira. Mas ou não fosse a escritora Fernanda Torres especialista em tragicomédia, as coisas não acontecem como ele imaginava.
“Que importância teria um actor em meio a toda essa derrocada? Eu era peça de museu, lia jornal em folha impressa, atendia telefone fixo, comia glúten, tomava antibiótico e amava os romances do século XIX. Agradeci a falta de filhos, era um futuro a menos para eu me preocupar”, confessa o protagonista. Mas há outra preocupação na vida de Mario Cardoso: a sua mãe, que vive sozinha, desenvolve uma degenerescência cerebral e começa a perder as suas capacidades e a ficar confusa com o mundo que a rodeia.
Publicado em 2017 no Brasil pela Companhia das Letras e no ano seguinte em Portugal, o romance A Glória e seu Cortejo de Horrores, que atravessa não só as várias fases da carreira deste actor de meia-idade, mas também várias épocas da história do Brasil, estará em discussão no próximo Encontro de Leituras, o clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo, a 13 de Julho, às 22h de Lisboa (18h de Brasília). Fernanda Torres é a convidada e responderá às questões dos leitores na sessão Zoom, com a ID 912 9667 0245 e a senha de acesso 547272. A moderação, como é habitual, cabe às jornalistas Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e Úrsula Passos, editora-assistente de Cultura do jornal paulista.
Este romance deve o título a uma expressão muito usada pela mãe da escritora (que é filha da actriz Fernanda Montenegro e do actor Fernando Torres), “Ah, a glória e o seu cortejo de horrores”, como Fernanda Torres explica na dedicatória que lhe faz no livro.
Pelo Encontro de Leituras, que acontece todas as segundas terças-feiras de cada mês, já passaram como convidados Ondjaki, Valter Hugo Mãe, Nádia Battella Gotlib, José Luís Peixoto, Marília Garcia, Jeferson Tenório e Afonso Reis Cabral. Esses encontros podem ser ouvidos no podcast Encontro de Leituras.