Eleições: as feridas de Nagorno-Karabakh ameaçam o futuro da Arménia

Primeiro-ministro e ex-Presidente concorrem nas eleições antecipadas de domingo, cuja campanha foi marcada por discursos agressivos. Sondagens mostram competição renhida entre os dois maiores partidos.

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O primeiro-ministro arménio e recandidato à liderança do executivo, Nikol Pashinyan Vahram Baghdasaryan/Photolure/Reuters
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O principal líder da oposição, Robert Kocharyan, foi Presidente entre 1998 e 2008 Vahram Baghdasaryan/Photolure/Reuters

A Arménia decide no domingo o seu futuro em eleições antecipadas, convocadas pelo primeiro-ministro, Nikol Pashinyan, num momento de enorme crise política devido ao conflito em Nagorno-Karabakh, com o Azerbaijão. Está em jogo não só o posicionamento do país sobre a solução que pôs fim à última guerra no enclave, mas também a estabilidade do país.

A tensão vivida no país do Cáucaso começou com um acordo de cessar-fogo assinado por Pashinyan, em Novembro do ano passado, visto por muitos arménios como uma “traição” e humilhação. O país perdeu o controlo de alguns territórios do enclave e morreram cerca de quatro mil pessoas – mais mil mortos comparando com as 2904 perdas azerbaijanas.

A região de Nagorno-Karabakh, um enclave maioritariamente habitado por arménios, foi palco de um violento confronto entre a Arménia e o Azerbaijão durante seis semanas no ano passado. O pior conflito entre os dois países desde a guerra travada em 1991 apenas terminou com o cessar-fogo mediado pela Rússia.

Sete meses depois, muitas questões do pós-guerra ficaram por resolver, nomeadamente os militares arménios que continuam detidos e as tensões que permanecem nas regiões fronteiriças disputadas. E as feridas da guerra estiveram presentes na campanha política, alimentando as tensões entres os arménios.

Tensões internas

O primeiro-ministro foi descrito pelos seus opositores como “perdedor” por causa da perda de território. E no rescaldo do cessar-fogo, milhares de pessoas exigiram a sua demissão. Em Abril, Pashinyan apresentou a demissão e convocou eleições antecipadas.

Pashinyan, que ambiciona 60% dos votos, apelou ao estabelecimento “de uma ditadura da lei, do livre-arbítrio do povo” como “símbolo da reconstrução” da Arménia após a guerra. Esse apelo a um novo recomeço foi simbolizado em campanha com um martelo de aço que empunhava. 

Contudo, as sondagens mostram um empate técnico entre o seu partido, Contrato Civil, e o principal partido da oposição, Aliança Arménia, liderado por Robert Kocharyan, na casa dos 24%.

Kocharyan, Presidente do país entre 1998 e 2008, e natural de Karabakh, centrou a sua campanha na reconstrução da segurança nacional, na reconquista dos territórios perdidos e no fortalecimento das fronteiras arménias. Mas a sua oposição foi mais longe ao convidar o líder do executivo para um duelo.

Nas legislativas de domingo concorrem 22 partidos, dividos por quatro blocos políticos. Também os três antigos Presidentes que governaram a Arménia desde a sua independência em 1991 entraram na corrida. Um dos antigos líderes, Serzh Sargsyan, apelou ao seu eleitorado para enfrentar os martelos dos apoiantes de Pashinyan com tacos.

Numa campanha eleitoral marcada por discursos agressivos, “o risco de confrontos nas ruas é bastante elevado depois de umas eleições precedidas por campanhas tão agressivas”, alertou o analista político Viguen Hakobian, citado pela EuroNews.

“Esta é uma competição pelo mal menor”, disse Richard Giragosian, analista do Centro Regional de Estudos em Ierevan, citado pela BBC. 

Giragosian salienta a escolha difícil que os arménios têm pela frente entre o que chama de arrogância política e corrupção política no passado, e a liderança mais impulsiva e imprudente de Pashinyan. Muitos eleitores estão ainda indecisos. 

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