O barqueiro de Amarapura
Era ele. O mesmo que me transportara de barco, nove anos antes, pelas águas do lago Taungthaman. Era ele que agora voltava a fazê-lo, conduzindo-me até à outra margem enquanto eu admirava aqueles quase mil pilares de teca que desafiam os tempos desde meados do século XIX.
Nove anos. A mim não me parecia tanto tempo desde que aterrara, pela primeira vez, em Rangum, essa cidade mítica, tão herdeira de uma época remota, tão exótica e tão tradicional. Mas devemos sempre desconfiar de cidades cuja ortografia nos confunde e dessa toponímia que na Birmânia (o leitor começa já a questionar se é Birmânia ou Myanmar, mas eu mantenho, até ao fim, a primeira alternativa, apenas porque me parece muito mais sedutora) se perpetua: Rangoun, Rangoon, Yangoon ou Yangon? Capital do país desde 1885, com a sua atmosfera única e a serenidade asiática que quase já não se reconhece no continente, a cidade mais nostálgica da Birmânia perdeu o seu estatuto, em Novembro de 2005, para Naypydaw, erguida por essa altura a mais de três centenas de quilómetros a norte da região de Mandalay, onde o general Than Shwe, mais conhecido entre os amigos por “N.º1”, decidiu instalar, na sua qualidade de mais alto dirigente da Junta Militar, todas as instituições nacionais, beneficiando da falta de acessibilidade a esta região montanhosa.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.