Assim fala o astrofísico David Sobral sobre CR7

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O astrofísico David Sobral foi o meu convidado do mais recente “Assim Fala a Ciência”, o podcast do jornal PÚBLICO, com o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que co-organizo com David Marçal e o inestimável apoio técnico de Aline Flor.

Nascido no Barreiro e hoje professor na Universidade de Lancaster no Reino Unido (para os portugueses o nome evoca D. Filipa de Lencastre, que casou com D. João I), doutorou-se na Universidade de Edimburgo, em 2011. Depois foi “pós-doc” no Observatório de Leiden, nos Países Baixos, e a seguir trabalhou na Universidade de Lisboa, antes de se transferir para Lancaster. O seu feito mais mediático foi a descoberta em 2015 da galáxia “COSMOS Redshift 7” (CR7) a 13 mil milhões de anos-luz da Terra. CR7 vem de “COSMOS”, um projecto de rastreio de galáxias, e R de “Redshift”, desvio para o vermelho, uma medida de distâncias.

O limite do Universo observável é 14 mil milhões de anos-luz. A galáxia com o nome do melhor jogador português de sempre (a Hungria que o diga!) é a mais brilhante do Universo primordial e o berço de algumas das estrelas mais antigas. Olhando para elas, estamos a assistir ao nascimento das primeiras estrelas.

David Sobral, cuja área de especialidade é a astrofísica fora da nossa galáxia, também se debruçou sobre a “crise cósmica”. Comecei por comentar que os astrofísicos se divertiam muito a criar nomes para as suas descobertas. David não só confirmou como informou que encontrou outra galáxia distante, menos brilhante, que esteve para se chamar Messi. E, em 2016, ele e a sua equipa descobriram outra galáxia muito distante que decidiram baptizar com o nome de VR7, em homenagem à astrofísica Vera Rubin que morreu nesse ano sem receber o merecido Nobel: ela é a “mãe” da matéria escura. Explicando o outro termo, a “crise cósmica” consiste no facto de o Universo, agora maior e mais frio, já não estar a produzir estrelas como antigamente. A sua idade mais brilhante já passou.

O meu interlocutor explicou que as galáxias que vemos hoje (elípticas, espirais e espirais barradas: a nossa é uma espiral barrada) resultam de um longo processo de evolução, onde há mecanismos internos e externos. Um factor externo é a colisão de galáxias, de que vemos inúmeros exemplos no céu. Quis saber se a nossa Galáxia já tinha batido noutras e ele respondeu-me que há marcas disso. Acrescentou que estamos em rota de colisão com a Andrómeda, que está a 2,5 milhões de anos-luz de nós…

David Sobral é uma “enciclopédia galáctica”. Disse-me por que razão as estrelas mais antigas da nossa Galáxia estão no halo esférico e não no disco onde está o Sol. Que, tal como a nossa, todas as galáxias têm um grande buraco negro no centro, cuja origem, nalguns casos, ainda é um mistério. E todas têm um halo de matéria escura que não se sabe o que é (mas David deu alguns palpites).

O investigador português não se coibiu de falar da ciência portuguesa, onde faltam colocações para jovens como alguns dos nossos cientistas que, como ele, brilham lá fora.

Daqui a 15 dias conte com um novo episódio com mais um dos cientistas da rede GPS – Global Portuguese Scientists, que têm ajudado a criar e a espalhar o saber. Para ouvir, subscreva o Assim Fala a Ciência na Apple Podcasts, Spotify, SoundCloud ou outras aplicações para podcasts.

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Este programa tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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