Procura por exemplares do Daily Apple dispara depois da detenção do chefe de redacção

O jornal de Hong Kong foi visado por uma enorme operação de busca policial por causa da publicação de artigos críticos da China.

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Exemplares do Daily Apple esgotaram em várias bancas em Hong Kong JEROME FAVRE / EPA

Um dia depois da detenção do chefe de redacção e de quatro responsáveis administrativos do jornal de Hong Kong Apple Daily, a procura por exemplares deste diário disparou. Na metrópole viram-se longas filas de pessoas junto dos quiosques à procura da edição de sexta-feira.

Na véspera, centenas de polícias entraram na redacção do jornal naquela que foi a segunda operação de busca no local em menos de um ano. Foi detido o chefe de redacção, Ryan Law, e quatro responsáveis da empresa, e foram congelados 18 milhões de dólares de Hong Kong (cerca de dois milhões de euros) em activos do jornal.

Law e um dos administrativos foram acusados formalmente esta sexta-feira de conspiração com potências estrangeiras para pôr em causa a segurança de Hong Kong. A operação foi levada a cabo ao abrigo da Lei de Segurança Nacional aprovada no ano passado no território administrado pela China, que muitos vêem como uma violação dos direitos e liberdades básicas na cidade.

Esta lei facilita as operações policiais sempre que haja uma suspeita de estar em causa a segurança interna de Hong Kong, entendida frequentemente como ameaças à soberania chinesa sobre o território. Os seus críticos vêem-na como um instrumento para impedir qualquer manifestação de oposição ao regime chinês.

No caso do Apple Daily, a polícia disse que a operação foi motivada pela publicação de dezenas de artigos em que se defendia a aplicação de sanções económicas contra a China e contra as autoridades locais de Hong Kong.

Em Agosto do ano passado, o jornal já tinha sido visado pela polícia que deteve o proprietário, o bilionário Jimmy Lai, crítico do regime chinês, que está actualmente em prisão preventiva, acusado de violar a Lei de Segurança Nacional.

Tal como na altura, também agora a resposta da população foi dada com a compra em massa de exemplares do jornal. Esta sexta-feira viam-se filas de pessoas e em muitas bancas e quiosques os jornais esgotaram às primeiras horas da manhã.

A procura intensa obrigou o jornal a aumentar a circulação, que é geralmente de 80 mil, para 500 mil, diz a BBC.

A primeira página da edição de sexta-feira do Daily Apple é sobre a operação policial de que foi palco. “Polícia de segurança nacional fez buscas no Apple, prendeu cinco pessoas, apreendeu 44 discos rígidos com material noticioso”, lê-se na primeira página que, ao fundo, apresenta a mensagem “temos de continuar” a letras amarelas, a cor associada aos movimentos pró-democráticos de Hong Kong, diz o Guardian.

O tabloide é considerado um jornal popular e até sensacionalista, mais especializado em difundir boatos sobre celebridades do que no noticiário mais sério, mas no ambiente altamente politizado e dividido vivido em Hong Kong nos últimos anos, tornou-se num símbolo da luta pró-democrática. “Podem não gostar dele, mas penso que é preciso deixar a sua voz sobreviver”, dizia ao Guardian Steven Chow, que levava consigo três exemplares do Daily Apple.

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