ONU e União Africana homenageiam Kenneth Kaunda, que morreu aos 97 anos
O primeiro Presidente da Zâmbia é descrito como um “lutador pela liberdade, um estadista, um visionário e um símbolo da luta para a libertação” do continente africano.
As Nações Unidas lamentaram a morte do ex-Presidente da Zâmbia, Kenneth Kaunda, e destacaram o seu papel “chave no momento de estabelecer a trajectória” do país em direcção à democracia do país, após a sua independência do Reino Unido em 1960.
Kuanda, primeiro Presidente zambiano após a independência – cargo que ocupou até 1991 – morreu na quinta-feira aos 97 anos após ter sido hospitalizado, dias antes, num hospital militar na capital do país africano devido a uma pneumonia.
“Enquanto pai fundador da Zâmbia teve um papel chave no momento de estabelecer a trajectória do país em direcção à democracia multipartidária e foi um pan-africano comprometido”, relembrou o porta-voz da Secretaria-Geral da ONU, Stéphane Dujarric.
O secretário-geral da organização, António Guterres, empossado esta quinta-feira para o segundo mandato, está “profundamente triste” pelo falecimento de Kaunda, adiantou o porta-voz, acrescentando que, “neste momento de uma grande perda”, transmite a suas “profundas condolências” à sua família, ao Governo e população da Zâmbia.
It is with an indescribable sense of loss that I learnt of the passing of H.E. Kenneth Kaunda, first president of the Republic of Zambia and one of the Founding Fathers of the Organisation of African Unity. My deepest condolences to his family, the people & Govt of #Zambia. pic.twitter.com/8y9UDZz0ue
— Moussa Faki Mahamat (@AUC_MoussaFaki) June 17, 2021
Às condolências juntou-se o actual Presidente zambiano, Edgar Lungu, que mostrou a sua “grande tristeza” pelo acontecimento. “Foi-se quando menos se esperava, mas conforta-nos saber que está no céu com o nosso pai, Deus todo-poderoso”, escreveu numa mensagem na sua página de Facebook.
“Em nome de toda a nação – incluindo-me a mim mesmo – rezo para que toda a família Kaunda receba apoio, enquanto fazemos o luto pelo nosso primeiro Presidente, um verdadeiro ícone africano. Que a alma de Kenneth Kaunda descanse na paz eterna”, acrescentou Lungu.
Por sua vez, o presidente da Comissão da União Africana (UA) Moussa Faki Mahamat, falou de “um sentimento de perda indescritível” e recordou que Kaunda foi “um dos pais fundadores da Organização da Unidade Africana (OUA)”. Descreveu-o como um “lutador pela liberdade, um estadista, um visionário e um símbolo da luta para a libertação”.
“África perdeu um dos seus melhores filhos. Representou o verdadeiro sentido do pan-africanismo, pondo o seu próprio país em risco para oferecer um lugar seguro aos movimentos da libertação do Sul de África e aos seus povos”, destacou Mahamat num comunicado.
Neste sentido, enfatizou que defendeu "o fim do Apartheid e do mandado de minoria branca no Sul de África, formando um dos pilares do que chamamos hoje integração regional”, antes de ter referido a “solidariedade” da UA para com a família de Kaunda, o Governo e população do país.
Kaunda era um dos poucos líderes da luta anticolonial em África ainda vivos. Durante o seu mandato, a Zâmbia converteu-se num Estado de partido único, o que lhe conferiu controlo absoluto do país até 1991, quando se celebraram as primeiras eleições multipartidárias, quando foi derrotado por Frederick Chiluba.
Adoptou uma ideologia nacionalista-socialista a que chamou de Humanismo e foi aplaudido por construir escolas e hospitais no país africano. Após sair da cena política, manteve-se activo em obras de caridade através da sua fundação, centrada no VIH e na SIDA.