Lançada primeira missão tripulada chinesa para construir estação espacial
Com este passo, a China aumenta para 12 o número de astronautas que lançou no espaço, desde que alcançou o feito pela primeira vez em 2003.
A primeira missão tripulada enviada pela China para a sua estação espacial em construção partiu esta quinta-feira, do Noroeste do país, com três astronautas a bordo. O foguetão Longa Marcha 2F partiu à hora prevista, 09h22 (02h22 em Lisboa) do Centro de lançamento espacial de Jiuquan, no deserto de Gobi, de acordo com as imagens transmitidas em directo pela televisão estatal CGTN.
Os três astronautas, Nie Haisheng, Liu Boming e Tang Hongbo vão passar três meses no primeiro módulo da estação Tiangong (Palácio Celestial), que deverá estar concluída em 2022 e ter uma vida útil de pelo menos dez anos no espaço. Centro de controlo e habitação dos astronautas, este primeiro módulo foi colocado na órbita terrestre, entre 350 e 390 quilómetros de altitude, em Abril.
A decisão de construir uma estação espacial chinesa surgiu depois da recusa dos Estados Unidos de deixarem a China participar na Estação Espacial Internacional (ISS). A ISS, que reúne os Estados Unidos, a Rússia, o Canadá, a Europa e o Japão, deve deixar de estar operacional em 2024, apesar de a agência espacial norte-americana NASA ter já mencionado a possibilidade de prolongar o funcionamento até 2028.
“Estamos prontos a cooperar com qualquer país empenhado numa utilização pacífica do espaço”, declarou, na quarta-feira, um responsável da agência de voos tripulados chinesa (CMSA), Ji Qiming.
Experiências e caminhadas espaciais
A tripulação chinesa, composta por três astronautas, deve permanecer por três meses no módulo residencial da estação espacial da China, para realizar experiências científicas, trabalhos de manutenção, caminhadas espaciais e preparar a instalação de dois módulos adicionais. Embora a China admita que chegou tarde à corrida das estações espaciais, o país assegura que as suas instalações são de ponta e podem durar mais que a Estação Espacial Internacional, que está a chegar ao fim do seu período útil.
O lançamento desta quinta-feira também relança o programa espacial tripulado da China após um hiato de cinco anos. Com este passo, a China aumenta para 12 o número de astronautas que lançou para o espaço, desde que alcançou o feito pela primeira vez, em 2003.
À medida que a economia chinesa começou a ganhar força, no início dos anos 1990, a China formulou um plano para a exploração espacial, que executou numa cadência constante e cautelosa. Embora o país tenha sido impedido de participar na Estação Espacial Internacional, principalmente devido às objecções dos EUA, que apontam a natureza opaca do programa chinês e as suas estreitas ligações às Forças Armadas, a China avançou com a construção da sua própria estação, visando alcançar o estatuto de potência espacial.
Na quarta-feira, o director adjunto da Agência Espacial Tripulada da China, Ji Qiming, disse aos jornalistas, no centro de lançamento de Jiuquan, que a construção e operação da estação espacial vão elevar as tecnologias da China e permitir realizar experiências “úteis para todas as pessoas”.
Ambição chinesa
O programa espacial é parte de um esforço geral para colocar a China no caminho para missões ainda mais ambiciosas e fornecer oportunidades de cooperação com a Rússia e outros países, principalmente europeus, juntamente com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral. O programa espacial da China tem sido grande fonte de orgulho nacional, ilustrando a ascensão desde a pobreza à segunda maior economia do mundo, nas últimas quatro décadas.
Isto reforçou a legitimidade do Partido Comunista Chinês, cujo governo autoritário e limites à actividade política foram tolerados pela maioria dos chineses enquanto a economia crescia. O Presidente chinês e secretário-geral do Partido, Xi Jinping, associou-se a este sucesso. Nos seus comentários, Ji Qiming citou o líder chinês como o arquitecto da ascensão da China à proeminência no espaço.
A ida dos tripulantes para a estação espacial também coincide com a comemoração do centenário do Partido Comunista, no próximo mês, um marco político importante. A China está a modernizar as suas forças armadas, suscitando preocupações entre os vizinhos, os EUA e os aliados da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Enquanto a China diz defende o desenvolvimento pacífico do espaço, muitos lembram que o país, em Janeiro de 2007, enviou um míssil balístico para o espaço para destruir um satélite meteorológico inactivo, criando um campo de destroços que continua a ser uma ameaça.
O comandante da missão Nie Haisheng, 56 anos, e os astronautas Liu Boming, 54 anos, e Tang Hongbo, 45, são ex-pilotos da Força Aérea do Exército de Libertação Popular, com sólida formação científica. Todos os astronautas chineses foram recrutados, até à data, entre as Forças Armadas, o que ressalta a sua estreita ligação com o programa espacial.
Para Nie Haisheng, esta é a terceira viagem ao espaço, e para Liu Boming a segunda, após uma missão realizada em 2008 que incluiu a primeira caminhada espacial da China. Tang Hongbo está a voar para o espaço pela primeira vez. As futuras missões à estação incluirão mulheres, de acordo com as autoridades, com estadias estendidas por até seis meses e até seis astronautas na estação por vez durante as trocas de tripulação.
Com a China a intensificar a cooperação e os intercâmbios internacionais, é apenas uma questão de tempo até que os astronautas estrangeiros se juntem aos colegas chineses em missões à estação, disse Ji Qiming aos jornalistas. O programa espacial chinês inclui ainda a exploração do sistema solar com naves espaciais robóticas.
No mês passado, o país pousou uma sonda em Marte, que transportou um rover, que está a realizar uma série de tarefas, procurando principalmente por água congelada que poderia fornecer sinais de vida antiga no planeta vermelho. A China pousou antes uma sonda e um rover no lado oculto da Lua e trouxe de volta as primeiras amostras lunares do programa espacial de qualquer país desde os anos 1970. As autoridades já anunciaram que querem enviar astronautas chineses à Lua e, eventualmente, construir ali uma base para investigações.