Owen Hurcum: estudante, 23 anos, não-binário, presidente de câmara

É presidente da câmara de Bangor, a cidade mais antiga do País de Gales. E foi lá que Owen Hurcum percebeu que não era “super queer”, como até então pensava, mas não-binário. “Devo tudo a esta cidade por isso”, diz. Dirigi-la é o primeiro passo para retribuir.

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Owen Hurcum, estudante de mestrado de Arqueologia na Universidade de Bangor, é agora presidente da Câmara de Bangor, a cidade mais antiga do País de Gales ­­— tornando-se assim na primeira pessoa queer, não-binária e agénero a assumir este cargo em todo o mundo.

Aos 23 anos, Owen diz sentir uma grande honra por representar a sua comunidade numa posição como esta, e confessa que “não foi um choque ou uma surpresa” ter conseguido a eleição. Na verdade, foi mais surpreendente quando lhe sugeriram que se candidatasse, em 2019. “Não estava à espera disso. Não puseram ninguém a concorrer contra mim, por isso a minha eleição aconteceu sem oposição”, refere ao Guardian.

Natural de Harrow, em Londres, Owen mudou-se para Bangor há cinco anos. “Nunca podia ser eu em Londres. Sabia que era LGBT quando tinha 12 anos e desesperadamente escondi isso de toda a gente, como a minha família, os meus amigos e a comunidade. Não sentia segurança nem me sentia confortável em Londres. Só quando vim para Bangor é que me senti confortável em assumir-me”, afirma.

Em Bangor, garante, pôde ser quem era desde “o primeiro dia”. Foi lá, aliás, que percebeu que era não-binário. “Quando estava a crescer, não havia representatividade de pessoas não-binárias. Eu sabia que não era trans, no sentido em que não era mulher. Pensava que era apenas super queer”, conta.

Foram “as pessoas de Bangor” que lhe deram “o vocabulário, a confiança e o apoio” para Owen perceber que era, afinal, não-binário. “Bangor é o sítio que me permitiu abraçar-me e devo tudo a esta cidade por isso.” Agora, está a tentar devolver o que lhe foi dado.

Apesar da experiência positiva, nem tudo é um mar de rosas. Muitas vezes, chegam mensagens abusivas. “Centenas num dia”, lamenta Owen. Mas, garante, arranja sempre forma de “lidar com elas” — caso contrário não sabe o que aconteceria “à saúde mental”.

Poderá esta eleição significar um passo em frente na representação de pessoas trans e não-binárias na política e em lugares de poder? “Seria fantástico”, atira Owen. “Parece que agora é época aberta contra pessoas trans no Reino Unido. E isso não tem piada nenhum. Espero que consigamos representatividade nos escalões mais altos e que eles sejam capazes de dirigir qualquer governo para longe deste sectarismo.”

Para já, a ideia de Owen é mesmo “pôr Bangor no mapa”. E vai aproveitar todas as potencialidades da cidade — até os pavões. 

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