Contagem dos votos confirma vitória de Castillo no Peru, mas impasse mantém-se

Com 100% dos boletins contados, o sindicalista venceu Keiko Fujimori por uma diferença de 44 mil votos, mas a filha do antigo ditador continua a não reconhecer os resultados.

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Castillo celebrou a confirmação da vitória nas presidenciais peruanas STRINGER / EPA

Mais de uma semana depois da segunda volta das eleições presidenciais peruanas, as autoridades eleitorais revelaram finalmente o resultado definitivo, confirmando a vitória do candidato de esquerda, Pedro Castillo, por pouco mais de 44 mil votos em relação à sua adversária, de direita, Keiko Fujimori.

Castillo, um professor do ensino primário e sindicalista, obteve 50,125% dos votos válidos, contra os 49,875% obtidos por Fujimori, de acordo com a contabilização do Gabinete Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla original) tornada pública na terça-feira.

No entanto, Castillo ainda não pode ser declarado oficialmente vencedor das eleições presidenciais porque há vários pedidos de nulidade apresentados pela sua adversária, que continua a insistir na tese de fraude eleitoral.

Ainda assim, o candidato de esquerda realizou um discurso de vitória na terça-feira à noite e alertou para as tentativas de pôr em causa a validade dos resultados. “Hoje, começa a verdadeira batalha para acabar com as grandes desigualdades aqui na nossa pátria”, declarou Castillo perante alguns apoiantes em Lima.

O candidato criticou a recusa de Fujimori em aceitar a derrota e pediu respeito pela vontade dos eleitores. “Há vozes que vêm até de personalidades com muita experiência política que querem ir mais além de judicializar a vontade popular do povo peruano”, afirmou.

Castillo referia-se a uma sugestão do deputado Jorge Montoya, que pertence a um partido de extrema-direita, de pedir novas eleições.

Os observadores internacionais presentes nas eleições não detectaram qualquer irregularidade no processo eleitoral e nem Fujimori nem o seu partido apresentaram ainda publicamente qualquer prova de falseamento.

A situação política no Peru é tensa e a recusa de Fujimori em reconhecer os resultados promete arrastar a indefinição por mais tempo. As eleições presidenciais mostraram um país extremamente dividido – Fujimori, filha do antigo ditador Alberto Fujimori, obteve a maioria do seu apoio em Lima, especialmente junto das elites, enquanto Castillo garantiu o apoio nas regiões mais remotas da selva e entre as classes mais baixas.

A possibilidade de Castillo poder vir a governar o Peru fez acender alertas junto dos mercados financeiros, que vêem o sindicalista como um radical de esquerda com um programa que põe em causa a iniciativa privada ou os investimentos estrangeiros no país. O candidato tem tentado acalmar os nervos das instituições financeiras, garantindo que não vai haver expropriações, embora não abrindo mão de planos para rever a Constituição de forma a salvaguardar mais direitos e serviços públicos.

Para além do impasse até que Castillo possa ser declarado oficialmente vencedor das eleições, levantam-se interrogações sobre a sua capacidade para governar. O Parlamento está extremamente fragmentado e as bancadas dos partidos de esquerda estão em minoria, o que pode dificultar até a permanência de Castillo na presidência – os últimos três presidentes foram afastados pelo Congresso, dois dos quais em menos de uma semana, no ano passado.

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