Pandemia levou a acumulação de poupança adicional de 17,5 mil milhões

Poupança forçada dos portugueses conduziu ao acumular de riqueza financeira por parte dos portugueses. A sua utilização imediata pode aumentar ritmo de crescimento

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LUSA/TIAGO PETINGA

Para além da queda abrupta da actividade económica e do desaparecimento de empregos, a pandemia também trouxe para a economia portuguesa uma acumulação de poupança muito superior àquilo que tem vindo a ser o habitual. 

De acordo com os cálculos do Banco de Portugal, serão 17,5 mil milhões de euros as poupanças adicionais acumuladas pelos portugueses no período entre 2020 e 2023. É um valor correspondente a 11,9% do seu rendimento disponível e a 4% da sua riqueza financeira, que se explica essencialmente pelo facto de uma parte significativa da população, mesmo sem ter visto o seu rendimento a diminuir, ter reduzido os seus níveis de consumo, ou por estar mais tempo em casa em teletrabalho ou pura e simplesmente porque algumas das usas despesas habituais, como a ida a um restaurante ou o alojamento num hotel, terem ficado temporariamente indisponíveis. 

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É verdade que, em simultâneo, muitos portugueses perderam rendimentos durante a crise, sendo forçados a reduzir os seus níveis de poupança. Mas no total, o efeito de poupança forçado trazido pela pandemia foi mais elevado e os níveis de consumo registaram taxas de variação mais negativas do que as dos rendimentos. 

O cálculo do Banco de Portugal é feito comparando a poupança que actualmente se estima vir a ocorrer nos quatro anos entre 2020 e 2023 e o valor que se previa para o mesmo período em 2019, antes da chegada da pandemia. 

A fase de maior acréscimo da poupança já se registou. Dos 17,5 mil milhões de euros que se espera vir a poupar mais até 2023, 8,6 mil milhões aconteceram logo no ano 2020, durante os primeiros três trimestres da pandemia. Em 2021, estima o Banco de Portugal, serão mais 7,1 mil milhões e, em 2022 e 2023, a poupança adicional já será bastante reduzida, à medida que os hábitos de consumo dos portugueses voltam à normalidade. 

Esta alteração do nível de poupança durante a pandemia já teve, e deverá continuar a ter, um impacto muito significativo na evolução da economia. Em 2020, o aumento forçado da taxa de poupança contribuiu para as quedas históricas do consumo privado e do PIB. Mas agora, esta reserva financeira extra acumulada tem o potencial para acelerar os níveis de consumo nos próximos anos. 

É por isso que, quando apresentou esta quarta-feira as suas novas previsões de crescimento para este ano e os próximos, o Banco de Portugal assinalou que existe o “risco” de o crescimento acabar por ser mais alto, caso os portugueses venham a optar por usar, de uma forma diferente do que é habitual, estas poupanças acumuladas. 

“Tendo em conta que a propensão a consumir a partir da riqueza é muito inferior à do rendimento, e também o perfil dos principais aforradores, a projecção central assume que esta poupança adicional será em termos agregados essencialmente mantida na forma de activos financeiros até 2023. No entanto, não pode ser excluída a possibilidade de uma parcela destes recursos ser canalizada para consumo”, explica o Banco de Portugal, assinalando que, neste caso, “a possibilidade de uma parte da poupança acumulada durante o período da crise ser canalizada para despesa constitui um risco ascendente para a actividade”. 

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