Portugal: população envelheceu mas não chegou a encolher em 2020
Apesar das mortes provocadas pela covid-19 e da queda do número de nascimentos em 2020, o saldo migratório ajudou a fazer crescer a população residente. Éramos no final do ano 10.298.252.
Portugal está mais envelhecido, mas, apesar do agravamento da mortalidade provocado pelo novo coronavírus, viu no ano passado a sua população crescer ligeiramente para um total de 10.298.252 residentes. São mais 2243 pessoas, segundo as estimativas da população residente em Portugal, divulgadas esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em números redondos, a população residente divide-se em 4,8 milhões de homens e 5,4 milhões de mulheres. E o ligeiro acréscimo populacional decorreu essencialmente do facto de termos mantido um saldo migratório de 41.274 pessoas: abaixo dos 44.506 registados em 2019, mas, ainda assim, suficiente para compensar o saldo natural negativo.
Sublinhando que é o quarto ano consecutivo que o saldo migratório apresenta valores positivos, o INE enfatiza ainda que, apesar das limitações de circulação impostas pela covid-19 durante o ano passado, os movimentos migratórios internacionais registaram alguma dinâmica, com a entrada de 67.160 imigrantes permanentes (isto é, que entraram no país com a expectativa de cá permanecerem por mais de um ano), contra 25.886 saídas de portugueses para o estrangeiro.
Recorde-se, a propósito, que o número estimado de emigrantes temporários, ou seja, residentes que saíram do país com a expectativa de regressarem em menos de um ano foi de 42.323, mantendo-se acima dos emigrantes permanentes, apesar da diminuição deste fluxo em 13,3% relativamente a 2019.
Quanto ao saldo natural, no ano passado a diferença entre nascimentos e mortes agravou-se para os -38.931. Por detrás deste número esconde-se, além do acréscimo de mortes, uma marcada queda no número de nascimentos, a qual, de resto, se agravou ao longo do primeiro trimestre de 2021.
Sem surpresas, o número médio de filhos por mulher em idade fértil desceu para os 1,40 (era 1,42 em 2019). O país continua assim muito longe dos 2,1 filhos por mulher em idade fértil que seriam necessários para assegurar a renovação das gerações. Apesar disso, continua longe do recorde negativo de 1,21 filhos por mulher em idade fértil registados em 2013, ano fortemente marcado pela crise social e económica que levou à intervenção da troika em Portugal.
Em 2020, a idade média das mulheres ao nascimento de um filho foi 31,6 anos - mais 1,8 anos que em 2010. Ao longo desta década, a idade média das mulheres ao nascimento do primeiro filho subiu 2,1 anos, tendo-se fixado no ano passado em 30,2 anos.
O envelhecimento demográfico continuou assim a agravar-se. Portugal tem, segundo as estimativas divulgadas nesta segunda-feira, 167 idosos acima dos 65 anos por cada 100 crianças e jovens até aos 14 anos de idade (eram 163,2 em 2019). Se recuarmos uma década, até 2010, o índice de envelhecimento era de 123,9 idosos por cada 100 jovens.
E, da mesma forma, o índice de dependência total, que corresponde ao número de jovens e de idosos por cada 100 pessoas dos 15 aos 64 anos, continua a aumentar, acentuando a pressão demográfica sobre a população em idade activa. Em 2010, por cada 100 pessoas em idade activa residiam em Portugal 51,0 jovens e idosos. Este número aumentou para 55,9 em 2020.
Portugal tem hoje, aliás, a terceira idade mediana mais elevada da União Europeia (UE), isto é, se dividirmos a população em dois grupos de igual dimensão, a idade que “parte” estes dois grupos passou de 45,5 anos em 2019 para os 45,8 anos em 2020. Dez anos antes, a idade mediana fixava-se nos 41,7 anos.
Em 2019, ano mais recente com dados comparáveis, a média dos 27 países da UE era de 43,9 anos. Mais velhos do que Portugal estavam apresentavam-se apenas a Itália, com uma idade mediana de 47,2 anos, e a Alemanha (45,9 anos).