Israel vai saber este domingo se tem ou não novo Governo
Governo Naftali Bannett-Yair Lapid enfrenta votação no Parlamento. Se for aprovado, Benjamin Netanyahu cederá o seu posto após 12 anos.
O Parlamento israelita prepara-se para aprovar, este domingo, o próximo governo de Israel saído de uma aliança improvável de oito partidos da esquerda pacifista à direita ultranacionalista, unidos na ideia de afastar do poder o actual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção, de minar as instituições do estado de Direito, e de dar privilégios à comunidade ultra-ortodoxa, cujos partidos eram seus parceiros de coligação.
Na semana passada, Netanyahu reagiu com fúria à potencial aprovação iminente do chamado “governo de mudança” por uma maioria mínima de 61 deputados num Parlamento de 120, mencionando fraude eleitoral e acusando os rivais no que muitos viram ecos de Donald Trump. Mas entretanto não voltou a ter declarações incendiárias; e até se ausentou do espaço mediático.
Não é claro se estará ainda à espera que uma deserção de algum deputado do campo de Naftali Bennett e Yair Lapid, que dividirão, segundo o acordo de governo, a sua chefia, ponha em perigo a aprovação. Ou se estará, como dizia Yossi Verter no Haaretz, a passar por uma das cinco fases de luto. Ou ainda, como antecipava o professor da Universidade Hebraica Guy Laron no Twitter, a preparar-se para torpedear a nova coligação enquanto líder da oposição, esperando capitalizar com um erro fatal, tanto mais possível quanto a coligação depende de cada um dos partidos, e a retirada de qualquer um levará à queda do Governo, para emergir, em novas eleições, como um líder fortalecido.
A sessão do Knesset (Parlamento), no primeiro dia útil da semana em Israel, contará com um discurso de Netanyahu.
Se for aprovado, o governo terá muitas estreias: a começar pelo primeiro-ministro, que será, pela primeira vez, um judeu religioso. Bennett é descrito como um ortodoxo moderno, e será o primeiro chefe de Governo a usar kippa (solidéu). A sua família é, no entanto, secular. Este é um contraponto ao primeiro governo sem a presença de partidos ultra-ortodoxos em muitos anos. A comunidade ganhou privilégios com Netanyahu, alguns muito notórios, com excepções a regras para a contenção do coronavírus que não estavam simplesmente a ser aplicadas do mesmo modo nas zonas onde vivem ultra-ortodoxos, ou nas suas escolas. Mas, diz Verter no Haaretz, estas excepções foram até contraproducentes para a própria comunidade, como mostrou o desastre do Monte Meron em que morreram 45 pessoas.
Também será a primeira vez que o primeiro-ministro vem de um partido que não um dos mais votados – Bennett tem apenas seis deputados (elegeu sete, mas um não quis apoiar este governo). Lapid, o segundo a ocupar o cargo de primeiro-ministro segundo o acordo de rotatividade, tem 17.
Outra novidade absoluta é a entrada num governo de um partido árabe israelita, que representa a comunidade de palestinianos que não saíram das suas casas durante e depois da criação do Estado de Israel e têm cidadania israelita. O conservador Mansour Abbas é a cara da mudança de posição dentro do bloco, que se dividiu, e conseguiu um plano de investimento para as zonas árabes.
Se o voto do Knesset for favorável, Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro que mais tempo esteve no cargo, cederá o lugar a Bennett. Muitos antecipam já uma repetição do que aconteceu quando Netanyahu deixou a residência oficial, Balfour, em 1999, após três anos como primeiro-ministro, numa mudança que demorou vários dias e deu azo a acusações de que teria levado consigo presentes dados não a si mas ao Estado – na altura, foram sugeridas acusações, mas o procurador-geral decidiu não acusar.
O processo judicial em que Netanyahu é acusado por corrupção e tráfico de influências é visto como o principal motivo para ele se querer manter no poder. A ideia de Netanyahu, lembra Verter, era influenciar a escolha da comissão que decidirá quem vai ser o próximo procurador-geral e ver o seu processo adiado ad aeternum. Israel levou a cabo quatro eleições inconclusivas, não tem orçamento desde 2019, e a vontade da coligação é que o país siga em frente depois desta paralisia. Mas com tantos partidos tão diferentes, isso está longe de ser um dado adquirido.
Se for aprovado, o governo terá já um teste nesta terça-feira, quando se realizar uma marcha nacionalista em Jerusalém. O percurso foi adaptado para não passar mesmo no interior da parte muçulmana da Cidade Velha, mas mesmo assim incluirá a entrada pela Porta de Damasco, que dá acesso a essa zona, e há potencial para conflitos.