Os 100 anos da descoberta da insulina

Inicialmente, a insulina foi isolada a partir de ensaios em pâncreas caninos e, posteriormente, em gado bovino. Em Janeiro de 1922, o jovem canadiano Leonard Thompson, de 14 anos, viria a ser a primeira pessoa a receber a injecção de insulina para o tratamento da diabetes tipo 1.

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Simon Dawson/Reuters

Certamente já ouviste falar em diabetes, uma doença crónica em que a quantidade de glucose, ou açúcar, no sangue é muito elevada. A diabetes ocorre quando o pâncreas não produz insulina adequadamente ou em quantidade suficiente, de modo a remover a glucose da corrente sanguínea e facilitar a sua entrada nas células do organismo, por exemplo após uma refeição.

O que talvez desconhecesses é o facto de a insulina ter sido descoberta há 100 anos, em 1921. Surpreendentemente, a noção desta patologia remonta mesmo até ao tempo dos egípcios, que terão registado sintomas semelhantes aos da diabetes num papiro, o Papiro Ebers, cerca de 1550 antes de Cristo.

Importantes figuras na história da diabetes incluem o britânico Thomas Willis, que em 1674 provou a urina de um diabético, chegando à conclusão de que esta se assemelhava ao sabor do mel, o que se pensa poderá estar por detrás da classificação da doença como diabetes (mel)litus. Anos mais tarde, o americano Matthew Dobson demonstraria que, tal como na urina, também o sangue de pessoas diabéticas continha uma substância doce, concluindo que o açúcar estaria presente no sangue antes da sua inicialmente pensada “formação” nos rins.

Mas, afinal, como se chegou à descoberta da insulina para a terapia da diabetes? A insulina é uma hormona produzida no pâncreas, como referido anteriormente, em regiões chamadas ínsulas, em particular nos Ilhéus de Langerhans, assim denominados pelo cientista alemão que primeiro as descreveu, Paul Langerhans. Mas foi já no início do século XX que um médico e um professor de Toronto, no Canadá, Frederick Banting e John Macleod, se juntaram para levar a cabo o isolamento da insulina destes ilhéus, uma descoberta que lhes valeu o Prémio Nobel de Fisiologia, ou Medicina, em 1923. O prémio terá sido dividido com os seus respectivos colaboradores de laboratório, Charles Best e James Collip.

Inicialmente, a insulina foi isolada a partir de ensaios em pâncreas caninos e, posteriormente, em gado bovino. Em Janeiro de 1922, o jovem canadiano Leonard Thompson, de 14 anos, viria a ser a primeira pessoa a receber a injecção de insulina para o tratamento da diabetes tipo 1. Em menos de 24 horas os seus níveis de açúcar no sangue terão baixado, mas o tratamento terá causado algumas complicações, levando o bioquímico Collip a refinar o procedimento experimental para obter um extracto de insulina o mais puro possível. Após uma segunda injecção com este composto mais puro, o jovem terá reagido favoravelmente. O sucesso da terapia levou a que, em Maio do mesmo ano, a insulina estivesse a ser produzida em larga escala pela farmacêutica Eli Lilly.

Sabias ainda que a associação mais antiga do mundo de pessoas com diabetes é portuguesa? Foi o médico Ernesto Roma quem a fundou, em 1926. Licenciado em Medicina em Lisboa, terá passado mais tarde pelos Estados Unidos, e foi aquando do seu estágio em Boston, no Massachusetts General Hospital, que Roma testemunhou a revolução da terapia com insulina e visitou a Clínica Joslin, onde terão sido administradas algumas das primeiras doses. Foi também ele o pioneiro da insulinoterapia em Portugal, melhorando a qualidade de vida de inúmeros doentes.

Caso tenhas ficado curioso sobre o tema, poderás saber mais visitando a exposição com entrada livre, Uma Visita à História da Diabetes no Centenário da Descoberta da Insulina, patente até 16 de Junho, no Foyer do Salão Nobre do complexo ICBAS/FFUP, no Porto.

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