Operadores britânicos unidos pela revolta e consternação contra decisão do governo

Empresas de aviação e operadores turísticos sentiram efeitos imediatos da saída de Portugal da “lista verde” dos destinos turísticos. Perderam 2,3 mil milhões de euros em bolsa. Ryanair fala de decisão “bizarra”

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Paul Hanna

A decisão anunciada esta quinta-feira pelo governo britânico de retirar Portugal da “lista verde” dos países isentos de restrições significativas a viagens (nomeadamente fazer isolamento social no regresso às ilhas britânicas) não trouxe perturbações e revolta apenas aos operadores turísticos portugueses. O anúncio teve efeito imediato no valor das grandes empresas de turismo cotadas na bolsa de Londres, que perderam 2,3 mil milhões de euros em capitalização bolsista.

As acções do operador turístico TUI caíram 4,5%, a Easyjet e o grupo proprietário da British Airways, IAG, perderam cada uma mais de 5% do seu valor e a Ryanair perdeu 4,5%.

As contas foram feitas pelo jornal britânico The Guardian que ouviu também as reacções de responsáveis de empresas de aviação como a Easyje, e de operadores turísticos como a Thomas Cook ou a Tui. As respostas alinharam todas pelo sentimento de revolta e de consternação.

Revolta porque, segundo os responsáveis da Tui e da Easyjet, significa que o governo britânico quebrou a promessa de dar tempo às empresas para se prepararem - e recuperarem dos prejuízos sofridos. E consternação, porque o governo tomou esta posição menos de um mês depois de Portugal se ter tornado o primeiro grande destino turístico a integrar a lista verde para os cidadãos britânicos, o que permitiu que os hotéis no Algarve, por exemplo, estivessem já com ocupação a 90% durante este fim-de-semana prolongado.

Citado pelo jornal, o responsável da Easyjet acusou o governo de Boris Johnston de ter ignorado a ciência e lançado o caos: “O governo rasgou o seu próprio livro de regras e ignorou a ciência, atirando os planos das pessoas no caos, praticamente sem aviso prévio ou opções alternativas para viajar do Reino Unido. Esta decisão essencialmente isola o Reino Unido do resto do mundo”, disse Johan Lundgren. Este responsável também acusa o governo de não estar atento aos destinos turísticos, uma vez que resiste em colocar as ilhas Baleares (Maiorca, Menorca, etc) e Malta na lista verde, numa altura em que as taxas de infecção nestas ilhas estão muito abaixo das registadas no Reino Unido.

O executivo britânico não acrescentou nenhum país à lista verde, mas também não colocou mais nenhuma na lista vermelha, pelo que os destinos como a Grécia e a Espanha continuam foram destas limitações. Mas os britânicos que regressem de Portugal a partir das 4h00 da próxima segunda-feira, 8 de Junho, terão de cumprir uma quarentena de dez dias.

Andrew Flintham, director da Tui, afirmou que a decisão do governo britânico vai trazer “danos incalculáveis” à disposição de gastar dos turistas. “Depois de promessas de inverter a reviravolta prejudicial que todos sofremos no verão passado, a decisão do governo de tirar Portugal do verde causará danos incalculáveis ​​à confiança do cliente”, afirmou. 

As críticas à decisão anunciada surgem de todo o lado. presidente-executivo da Thomas Cook, Alan French, apelou ao governo para divulgar os dados usados ​para tomar sua decisão. A vice-presidente do World Travel & Tourism Council, Virginia Messina, disse que a mudança do estatuto de Portugal iria “esmagar a confiança para viajar, diminuir as reservas futuras e dissuadir os turistas”. “Isso causará ainda mais stress para as empresas de viagens e turismo que já estavam a recuperar com a decisão anunciada há apenas algumas semanas”, afirmou.

Num comunicado enviado esta sexta-feira às redacções, a Ryanair refere-se à decisão do governo de Boris Jonhson como sendo “bizarra” e que não tem base em critérios de saúde pública ou ciência médica. 

“Esta abordagem pára-vai-pára para viagens curtas na Europa é inexplicável e injustificada quando 75% da população do Reino Unido já recebeu uma vacina Covid. Não há nenhuma razão médica ou de saúde pública para remover Portugal da Lista Verde, quando suas taxas de casos Covid são tão baixas quanto no Reino Unido, com apenas 50 por 100.000 habitantes, e o programa de implantação de vacinas em Portugal ultrapassou 40% e está a crescer rapidamente para os níveis do Reino Unido”, escreve Michael O'Leary no comunicado. 

O presidente da Ryanair diz que os cidadãos do Reino Unido que já reservaram uma viagem para Portugal “merecem uma explicação”, e pergunta “por que os cidadãos do Reino Unido vacinados são obrigados a entrar em quarentena ao retornar de um país que tem taxas de casos Covid tão baixas quanto o Reino Unido”. 

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