Aston Martin quer levar a consciencialização dos temas LGBTQ+ para os circuitos de F1
O regresso da Aston Martin à Fórmula 1, depois de uma ausência de cinco décadas, promete agitar as águas. A equipa anunciou que irá aproveitar o protagonismo na prova rainha para promover a consciencialização de temas LGBTQ+.
A equipa de Fórmula 1 da Aston Martin anunciou esta terça-feira, 1 de Junho, uma parceria com o movimento Racing Pride no sentido de aumentar a sensibilização para a diversidade LGBTQ+. Fundada em 2019, a Racing Pride tem como objectivo dar visibilidade às comunidades lésbica, gay, bissexual e transexual no desporto motorizado e desafiar estereótipos negativos e conceitos errados.
A campanha, explicou a equipa que voltou às corridas este ano, vai decorrer durante o Mês do Orgulho, que se assinala em Junho, alinhando-se com a iniciativa #WeRaceAsOne da Fórmula 1, que visa condenar claramente o racismo e as desigualdades sociais, ainda mais expostas durante a pandemia de covid-19.
Os logótipos do Orgulho das Corridas surgirão nos carros presentes no Circuito Paul Ricard, no GP de França, a 20 de Junho. E a medida foi bem acolhida por vários pilotos.
“Felicito as pessoas que impulsionaram a discussão que levou a uma maior inclusão”, disse o tetracampeão mundial Sebastian Vettel, que integra a força da Aston Martin, com o canadiano Lance Stroll. “De igual modo, estou consciente de que é preciso fazer mais para mudar atitudes e remover grande parte da negatividade que resta”, acrescentou o alemão numa declaração escrita.
O co-fundador do Racing Pride, Richard Morris, que corre no campeonato de enduro da Britcar, considerou as palavras de Vettel e o envolvimento do piloto extremamente significativos. “O alcance que podem dar-lhe é algo que fará uma verdadeira diferença”, avaliou, em declarações à Reuters.
Na mesma conversa, Richard Morris recordou o dia de 2018 em que, muito nervoso, decidiu anunciar nas redes sociais que era homossexual. E não só a reacção dos seus seguidores foi esmagadoramente positiva como os seus desempenhos nas pistas, depois desse dia, melhoraram. Antes desse momento, recordou o piloto, a dúvida de não encaixar no estereótipo e de não ser aceite preocupava-o.
“Ter a Aston Martin a ser a primeira equipa a dizer directa e explicitamente à comunidade LGBTQ+ ‘Vocês pertencem, nós apoiamos-vos, são valorizados’ tem um enorme impacto e um longo alcance.”
A Aston Martin, propriedade do multimilionário Lawrence Stroll e com o gigante tecnológico Cognizant como patrocinador principal, disse que serão realizados workshops, sessões de coaching e seminários para os membros da equipa. Tudo porque, explica Richard Morris, embora a homofobia agressiva seja rara nos desportos motorizados, o uso de uma linguagem homofóbica precisa de ser falado e travado.
“Estabelece-se uma expectativa para as pessoas que entram no desporto sobre quem devem ser; eu passei muito tempo a tentar ser essa pessoa que achava que deveria ser”, recordou.
O director de comunicação da equipa de F1 da Aston Martin, Matt Bishop, apontou para o facto de muita coisa ter mudado, para melhor, desde que aterrou na Fórmula 1, nos anos 90 do século passado, como jornalista e gay assumido. Na altura, recordou, sentia-se como “o único gay na aldeia”, mas e-mails de relatos pessoais ao longo dos anos tinham deixado claro que não o era.
“Diziam... ‘sou mecânico ou engenheiro e gostava de me poder assumir. Tenho de viver em segredo. Não posso admitir aos meus companheiros de equipa que sou gay’”, lembrou, citando de cor os e-mails que foi recebendo, sobretudo já depois de se ter juntado à McLaren como director de comunicação.
Mas, “mesmo em 2021”, os e-mails “de pessoas que se encontram nessa posição talvez há 15 ou 20 anos” continuam a chegar de vez em quando.