ONU pede investigação independente às mortes nos protestos na Colômbia
Manifestações duram há um mês e a violência aumentou em Cali, para onde foi enviado o Exército. Pelo menos 13 pessoas morreram desde sexta-feira.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu este domingo uma investigação independente aos protestos violentos que resultaram na morte de pelo menos 13 pessoas desde sexta-feira e que obrigaram o destacamento do Exército para Cali, na Colômbia.
O Exército colombiano, obedecendo à ordem do Presidente Iván Duque, posicionou mais de mil soldados, no sábado, na terceira cidade do país, epicentro dos protestos antigovernamentais.
As ruas desta cidade com 2,2 milhões de habitantes foram palco de confrontos entre manifestantes, polícias e civis armados, na sexta-feira.
Num dos incidentes, um agente da Procuradoria de Cali disparou sobre a multidão, matando dois civis, antes de ser linchado por manifestantes.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos faz o balanço de 14 mortos e 98 feridos, incluindo 54 por armas de fogo, desde sexta-feira.
“É essencial que todos aqueles que possam estar envolvidos [nos actos de violência] que causaram ferimentos ou mortes, incluindo funcionários, sejam prontamente, efectivamente, independentemente, imparcialmente e transparentemente investigados e responsabilizados”, disse a alta comissária da ONU, Michelle Bachelet, num comunicado.
A violência na Colômbia numa altura em que se cumpre um mês de protestos, que começaram com um projecto de reforma fiscal – rapidamente abandonado – apresentado pelo Presidente da Colômbia, Iván Duque, com a proposta de aumentar o IVA e ampliar a base de incidência do imposto de renda.
Durante um mês de protestos morreram pelo menos 59 pessoas, incluindo dois polícias, de acordo com um balanço oficial. A organização Human Rights Watch relata, porém, que foram mortas 63 pessoas, ficaram feridas cerca de 2300 e que 123 ainda estão desaparecidas.
Ao longo desse período, o cenário repetiu-se sucessivas vezes: durante o dia, as manifestações foram pacíficas; à noite transformavam-se em confrontos violentos e mortais. Esta revolta sem precedentes tem atingido sobretudo as grandes cidades, onde são erguidas barricadas e onde bloqueios de estradas exasperam parte da população.
Apesar dos esforços dos mediadores responsáveis pelas negociações com o Comité Nacional de Greve, o Governo não tem conseguido acalmar os ânimos, muito inflamados por jovens activistas.
A tensão social no país dura há várias décadas, mas escalou a partir de 2019, um ano após a eleição que levou ao poder Duque, quando estudantes começaram a sair às ruas para reivindicar mais justiça social e melhores condições económicas.
A pandemia de covid-19 suspendeu temporariamente os protestos, mas também acentuou as clivagens sociais e económicas, deixando 42,5% dos 50 milhões de habitantes em situação de pobreza.