Tribunal Constitucional do Mali confirma subida ao poder de líder do golpe militar
Em nove meses, o país africano, crucial no combate ao terrorismo no Sahel, foi palco de dois golpes de Estado. Assimi Goita promete eleições no próximo ano.
O líder do golpe militar no Mali, o coronel Assimi Goita, foi confirmado como Presidente interino do país pelo Tribunal Constitucional, consumando a segunda tomada do poder à força em pouco mais de nove meses.
Na quarta-feira, Goita tinha assumido a presidência do país na sequência da detenção do chefe de Estado Bah N’Daw e do primeiro-ministro Moctar Ouane. O coronel já tinha liderado o golpe que derrubou o Presidente democraticamente eleito Ibrahim Boubacar Keita, em Agosto.
O afastamento de N’Daw e de Ouane esteve relacionado com o processo de formação do Governo para o qual Goita, que era vice-presidente, não foi consultado. Goita acusou Ouane de ser “incapaz de ser um parceiro fiável”. Depois de terem aceitado a demissão, os dois foram libertados no dia seguinte.
Na sexta-feira, falando em público pela primeira vez desde a tomada do poder, Goita justificou as suas acções como uma defesa da “coesão entre as forças de defesa e de segurança”. O novo chefe de Estado comprometeu-se a respeitar o calendário definido e garantiu que vai marcar eleições no próximo ano.
O golpe de Goita foi condenado pela União Europeia, União Africana e EUA, que emitiram um comunicado conjunto em que reprovam “qualquer acto imposto através da coacção, incluindo demissões forçadas”.
O aparente choque no seio das Forças Armadas aprofunda o clima de instabilidade vivido no Mali, que culminou no golpe de Agosto do ano passado. Na altura, Boubacar Keita foi forçado a demitir-se pelos militares depois de meses de protestos contra a intervenção do Tribunal Constitucional na composição da Assembleia Nacional que ditou o afastamento de 30 deputados da oposição.
O Mali, país de 18 milhões de habitantes, tem uma importância fundamental para o equilíbrio da região do Sahel, onde opera uma miríade de grupos armados. Em 2012, um golpe de Estado abriu espaço para o surgimento de um grupo islamista que passou a controlar o Norte do país.
Os analistas receiam que o prolongamento da crise política no Mali prejudique o empenho das forças malianas que combatem grupos terroristas no Sahel, como a Al-Qaeda ou o Daesh.