Lukashenko acusado de “sequestro de avião” e “rapto” de jornalista
Dirigentes europeus e dos EUA defendem proibição do espaço aéreo bielorrusso, depois do desvio ordenado por Lukashenko. EUA exigem “libertação imediata” do jornalista detido ao aterrar em Minsk.
Todos os voos civis devem deixar de sobrevoar a Bielorrússia, defende o chefe da Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado norte-americano, Bob Menendez, num comunicado conjunto com os homólogos de vários países europeus, um dia depois de o regime de Alexander Lukashenko ter desviado um avião, a pretexto de um suposto alerta de segurança, para deter o jornalista Roman Protasevich.
O voo da Ryanair unia duas capitais da União Europeia, tendo levantado de Atenas, na Grécia, com destino a Vílnius, na Lituânia, com 123 pessoas a bordo. Quando estava prestes a deixar o espaço aéreo bielorrusso, os passageiros foram informados de que faria uma aterragem de emergência em Minsk. As autoridades bielorrussas tinham contactado a tripulação para relatar um alerta de bomba, que acabaria por se comprovar ser falso.
“Isto é um acto de pirataria aérea, combinado com sequestro de avião e, eventualmente, ligado a um rapto”, afirmou o deputado britânico conservador Tom Tugendhat, à rádio do jornal The Times, defendendo a imposição de novas sanções aos dirigentes bielorrussos. Tugendhat é um dos signatários do comunicado – para além dos Estados Unidos e do Reino Unido, o texto é assinado por parlamentares da República Checa, Lituânia, Alemanha, Irlanda e Polónia.
Condenando “a ameaça de violência contra um avião civil”, os responsáveis descrevem “um acto de pirataria numa rota entre dois países da NATO e da UE” e “um acto imprudente que colocou os passageiros e a tripulação em grave perigo”, que recorda “a falta de legitimidade da administração que reivindica autoridade em Minsk”.
Tanto os EUA como a UE deixaram de reconhecer Lukashenko como Presidente da Bielorrússia depois das presidenciais de Agosto, que deram ao líder bielorrusso 80% dos votos e foram consideradas fraudulentas, provocando meses de protestos pró-democracia duramente reprimidos pelas forças de segurança.
Possíveis sanções
“Poderia haver outras medidas […]. Estou a pensar numa medida que deve ser discutida a nível europeu e internacional, a proibição do espaço aéreo bielorrusso, que é uma medida de sanção”, disse entretanto o secretário de Estado francês dos Assuntos Europeus, Clément Beaune, em declarações transmitidas pela rádio RMC.
A Comissão Europeia, assim como dirigentes de vários países da UE, já tinham condenado o desvio do avião; e a presidente, Ursula von der Leyen, falou num acto “completamente inaceitável” que tem de ser sancionado. As possíveis sanções serão discutidas esta segunda-feira à tarde, numa reunião do Conselho Europeu em Bruxelas.
O secretário de Estado norte-americano juntou a sua voz ao coro de críticas, exigindo ainda “a libertação imediata” de Roman Protasevich. A mesma exigência foi feita já esta segunda-feira pelo alto-representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell.
“Este acto chocante do regime de Lukashenko pôs em perigo as vidas de mais de 120 passageiros, incluindo cidadãos dos EUA”, lê-se num comunicado de Antony Blinken. “As informações que sugerem o envolvimento dos serviços de segurança da Bielorrússia e o uso de um avião militar bielorrusso para escoltar o avião são profundamente preocupantes e requerem uma investigação total”, acrescenta Blinken.
Alguns passageiros relataram como o jornalista bielorrusso, que viajava com a sua namorada, estava “superassustado”. “Eu vou ser condenado à morte aqui”, disse a um passageiro, antes de ser levado pela polícia bielorrussa.
Ordem de Lukashenko
Os media estatais confirmaram, entretanto, que Lukashenko deu pessoalmente a ordem para desviar o avião, que aterraria em Vílnius mais de seis horas depois do previsto e com menos dois passageiros – Protasevich e a namorada.
Com 26 anos, Protasevich foi co-fundador e editor de um serviço de notícias online sediado na Polónia, o NEXTA, que cobriu os protestos contra Lukashenko no ano passado e que, como outros, usava a aplicação Telegram – a plataforma que tem sido o recurso possível para jornalistas e activistas conseguirem dar notícias e passar mensagens em países que censuram a informação. Actualmente, Protasevich trabalha para outro canal do Telegram, o Belamova.
Protasevich deixou o país em 2019 – a participação num protesto aos 16 anos fez com que fosse expulso de uma escola e, mais tarde, do programa de jornalismo na Universidade Estatal de Minsk – e vive exilado na Lituânia. Em Novembro, foi acusado de organizar motins e incitar ao ódio social no seu país.