“Caçar” a luz de 30 milhões de galáxias para mapear Universo e “revelar” energia escura

O instrumento que está incorporado no telescópio Nichola U. Mayall instalado no observatório norte-amercano foi testado durante quatro meses e, para já, tem a missão vigiar o Universo durante os próximos cinco anos.

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As imagens das galáxias no Universo normalmente são vistas no mesmo plano NASA

Um instrumento de um telescópio nos Estados Unidos vai capturar nos próximos cinco anos a luz de mais de 30 milhões de galáxias e outros objectos cósmicos, permitindo aos cientistas mapear o Universo e desvendar os mistérios da energia escura. O Instrumento Espectroscópio de Energia Escura (Dark Energy Spectroscopic Instrument, com a sigla em inglês DESI) completou quatro meses de testes, e está incorporado no telescópio Nicholas U. Mayall, que faz parte do Observatório Nacional Kitt Peak, gerido pelo centro astronómico norte-americano NOIRLab, segundo um comunicado divulgado esta terça-feira. A primeira missão do DESI vai prolongar-se pelos próximos cinco anos.

Na fase de testes, o instrumento recolheu quatro milhões de espectros electromagnéticos, que fornecem informação sobre a composição química dos corpos celestes, velocidades ou distâncias relativas. Os cientistas esperam, com novas observações, poder construir um mapa tridimensional do Universo, “com detalhes sem precedentes”, e assim estudar a natureza e as propriedades da energia escura, que constitui a maior parte do Universo e faz com que se expanda de forma acelerada.

À medida que o Universo se expande, as galáxias afastam-se umas das outras e a luz é desviada para comprimentos de onda mais longos e vermelhos. Quanto mais distante é a galáxia, maior é o seu desvio para o vermelho. Ao medirem os desvios para o vermelho de galáxias, os cientistas pretendem criar um mapa 3D do Universo.

Num comunicado divulgado no início deste ano sobre a missão de DESI explicava-se que o instrumento está equipado com “um conjunto de cinco mil robôs giratórios e automatizados, cada um totalizando um cabo fino de fibra óptica que será apontado para objectos individuais”. São estes cabos que vão captar a luz de milhões galáxias nos próximos cinco anos. 

Este passo acontece depois de um outro trabalho que serviu para construir um mapa 2D que identificava alguns dos principais alvos da “atenção” de DESI que, desta forma, acabará por fornecer novos detalhes sobre a misteriosa energia escura que desafia os cientistas. Sabemos que apenas uma pequena parte do Universo é matéria visível, e que tudo o resto é invisível, energia escura e matéria escura, que não absorve, não reflecte nem emite luz constituindo um dos maiores desafios da física moderna.

“O nosso Universo teve uma história surpreendente”, explicou Nathalie Palanque-Delabrouille, uma das cientistas ligadas a este projecto do DESI e cosmóloga da Comissão Francesa de Energias Alternativas e Energia Atómica (CEA). “Durante a primeira metade da sua vida, a sua expansão foi impulsionada principalmente pela matéria escura que contém.” A matéria escura é matéria desconhecida, constituindo 85% de toda a matéria do Universo e até agora apenas observada indirectamente através dos seus efeitos gravitacionais sobre a matéria normal.

“Contudo, nos últimos sete mil milhões de anos, a expansão do nosso Universo tem vindo a acelerar-se gradualmente sob a influência de uma misteriosa energia escura”, referia a responsável no comunicado do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos EUA​. E acrescentava: “O objectivo do DESI é clarificar com precisão este quadro geral, revelando o que é a energia negra.”

Nathalie Palanque-Delabrouille​ adiantava ainda que o DESI irá recolher luz de uma mistura de galáxias a várias distâncias, incluindo galáxias brilhantes que se encontram a quatro mil milhões de anos-luz da Terra, as chamadas galáxias vermelhas, que nos permitem ver até oito mil milhões de anos atrás, galáxias azuis muito jovens ou galáxias de “linha de emissão” que remontam a dez mil milhões de anos atrás, e finalmente quasares [regiões compactas e extremamente luminosas, situadas no centro das galáxias], que são tão brilhantes que podem ser vistos até 12 mil milhões de anos-luz de distância.