Festejos do Sporting podem favorecer contágios, diz Manuel Carmo Gomes. Adeptos devem testar-se à covid-19
Epidemiologista recomenda que as pessoas que participaram nos festejos do Sporting em Lisboa devem realizar um teste à covid-19 nas 48 a 72 horas seguintes.
O epidemiologista Manuel Carmo Gomes defende que os adeptos e simpatizantes do Sporting que participaram nos festejos na noite desta terça-feira em Lisboa devem realizar um teste de diagnóstico à covid-19, depois de não terem sido respeitadas medidas de protecção como o uso da máscara e o distanciamento social.
Manuel Carmo Gomes explica ao PÚBLICO que, em relação os episódios da noite passada, “as imagens falam por si”. “Vou apenas sugerir o seguinte: penso que as pessoas que estiveram presentes naquele evento deviam testar-se nas 48 a 72 horas seguintes. Ou seja, amanhã [ou no dia seguinte] deviam fazer um teste”, diz, acrescentando que o teste PCR “é mais sensível”. Caso optem por um teste de antigénio, devem também realizá-lo a partir do terceiro dia e, caso o resultado seja negativo, “devem repetir o teste passados um dia ou dois”.
“A lógica é a seguinte: a partir do momento em que a pessoa é infectada, está cerca de 24 horas com o vírus latente, portanto, praticamente não é detectável. Mas, ao fim de 48 horas a três dias, já é detectável”, nota, destacando que o teste PCR detecta o vírus neste período, enquanto o teste de antigénio “pode detectar ou não, dependendo da carga viral que a pessoa tiver”. É por esta razão que se a pessoa decidir fazer um teste de antigénio dois ou três dias depois do momento em que esteve potencialmente exposta ao vírus e o resultado for negativo deverá repeti-lo mais tarde.
Outra das recomendações que Manuel Carmo Gomes deixa aos adeptos que participaram nos festejos passa por evitar “contactos de proximidade com pessoas mais idosas que não estão vacinadas” enquanto não souberem se foram ou não expostos ao vírus.
Porém, o epidemiologista afasta a hipótese de essas pessoas se isolarem. “É evidente que se o teste for positivo devem isolar-se e ligar para o SNS 24 para seguir as orientações. Nas 24 horas logo a seguir, em princípio, a pessoa não tem ainda capacidade de infectar outros, mas ao fim de 48 horas já tem, caso tenha sido infectada”, nota.
Manuel Carmo Gomes explica ainda que o facto de os festejos terem decorrido ao ar livre é benéfico, embora alguns comportamentos possam aumentar o risco de contágio. “Se tivesse sido em ambiente fechado tinha sido bastante pior. Mas também vi imagens na televisão de pessoas com grande proximidade, sem máscara e aos gritos, o que aumenta muito o risco de transmissão. Se alguma daquelas pessoas estava infectada, a probabilidade de infectar outros que estejam à volta nessas circunstâncias é elevada”, conclui.
Segundo o especialista, é possível que se verifique um aumento de contágios nos próximos dias. “Pode acontecer, a probabilidade não é zero. Felizmente estamos com uma incidência bastante baixa em Portugal, mas estava lá tanta gente que alguém ali estaria infectado. Não tenho meios de saber quantos é que estavam infectados no meio daquela confusão e também não tenho maneira de saber se esses que estavam infectados estariam a usar máscara, a conter-se mais do que aqueles que vi aos berros. Mas é claro que a probabilidade não é zero e, portanto, pode acontecer”, destaca.
Manuel Carmo Gomes salienta ainda que “atendendo àquilo que aconteceu e que já não se pode evitar, a testagem é altamente recomendável” para protecção dos próprios e das pessoas com quem irão contactar nos próximos dias.