Partidos pró-independência confirmam maioria no Parlamento da Escócia

SNP garante quarta vitória consecutiva nas legislativas escocesas e Nicola Sturgeon assegura que trabalhará para dar aos eleitores a possibilidade de “decidirem o seu futuro”.

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A primeira-ministra escocesa durante uma entrevista, num centro de contagem de votos RUSSELL CHEYNE/Reuters

O Partido Nacional Escocês (SNP) venceu, como esperado, as eleições parlamentares de quarta-feira na Escócia. Apesar de ter falhado por pouco a maioria absoluta, o partido da primeira-ministra escocesa vai fazer tudo para garantir a realização de um novo referendo sobre a independência, afirmou a própria Nicola Sturgeon pouco antes de serem divulgados os resultados. A maioria, que escapou ao SNP, foi assegurada pelo conjunto das formações políticas que defendem a secessão.

“As únicas pessoas que podem decidir o futuro da Escócia são os escoceses, os políticos de Westminster [onde funciona o Parlamento do Reino Unido] não podem nem devem pôr-se no caminho disso”, afirmou Sturgeon este sábado.

“Se houver uma maioria simples e democrática no Parlamento escocês para um referendo à independência, não haverá justificação antidemocrática, eleitoral ou moral para [o primeiro-ministro] Boris Johnson bloquear o direito da população da Escócia de decidir o seu próprio futuro”, dissera antes da ida às urnas. “Se isto acontecesse na maioria das democracias no mundo, seria uma discussão absurda”, acrescentou.

O partido de Sturgeon acabou por conseguir 64 lugares, ficando a um representante da maioria absoluta. Com o aumento de um deputado face às últimas eleições em 2016, Sturgeon não tem dúvidas de que estes resultados são “históricos e extraordinários”, assinalando a quarta vitória do SPN no Parlamento escocês.

Numa eleição com 64% da participação, Sturgeon afirma que os eleitores escoceses lhe concederam um mandato “enfático” para realizar um novo referendo legalmente reconhecido. Embora a primeira prioridade seja a recuperação do país da crise provocada pela pandemia, pretende realizar um segundo referendo em breve.

A maioria que fugiu a Sturgeon é alcançada com a soma dos deputados do pró-independência Partido Verde Escocês, que antes dos resultados finais já confirmara a defesa da realização de um segundo referendo. A formação cresceu de dois deputados para oito.

Isto forçaria o Governo britânico a entrar num território perigoso para se opor, tendo de pedir ao Supremo tribunal do Reino Unido para anular a legislação existente, arriscando com isso um aumento no apoio popular da independência da Escócia e uma batalha constitucional sobre os poderes legais restritos de Holyrood (o Parlamento escocês).

Boris Johnson repetiu na sexta-feira ao Daily Telegraph que considera a realização de um referendo neste momento “imprudente e irresponsável”. “Não creio que esta seja a altura para ter uma disputa constitucional, para dividir o nosso país, quando o que as pessoas querem é recuperar a nossa economia e caminhar em frente juntos”, acrescentou.

Entre as formações unionistas, o Partido Conservador elegeu 31 deputados, o mesmo resultado das últimas eleições. Os Trabalhistas conseguiram 22 deputados, perdendo dois lugares, mas o seu líder prometeu oferecer uma “alternativa credível” ao SNP nos próximos cinco anos. Já os Liberais Democratas perderam um lugar, ficando agora apenas com quatro assentos.

Nunca o Parlamento escocês foi tão inclusivo, com 58 mulheres eleitas. A última vez que um número chegou perto disso foi em 1999, quando 48 candidatas entraram no Parlamento. Também foram eleitas as primeiras deputadas pertencentes a minorias, incluindo a primeira mulher de cor e muçulmana, assim como a primeira deputada em cadeira de rodas.

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