Esquerda Republicana propõe governar Catalunha a solo

Para evitar que sejam marcadas novas eleições autonómicas é preciso um novo executivo mandatado pelo parlamento catalão até 26 de Maio.

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Aragonès já viu a sua candidatura chumbada duas vezes pelo parlamento, em Março Alejandro Garcia/EPA

Dois meses e meio depois das eleições autonómicas da Catalunha ainda não há perspectivas de um acordo entre os dois maiores partidos independentistas, a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), que foi a formação mais votada entre os nacionalistas, e o Junts (Juntos pela Catalunha), seu parceiro de governação nos últimos anos. A caminho de 26 de Maio, data limite para evitar uma nova ida às urnas, o líder da ERC anunciou que tentará ser investido com o apoio do partido do ex-president Carles Puigdemont, mas sem que este integre o governo.

Para Pere Aragonès, a solução pode passar por tomar posse e continuar a negociar, evitando a pressão de uma repetição eleitoral. Depois, com tempo, o caminho permitirá “incorporar, se assim o quiserem, as formações que facilitem a investidura” com os seus votos no parlamento catalão. 

“Face à falta de entendimento e aos desacordos de fundo que persistem nas últimas semanas, a melhor opção para o país e para desbloquear esta situação é aceitar a oferta feita pelo Junts no início das negociações, e que ontem mesmo o seu secretário-geral reiterou”, disse Aragonès, depois de Jordi Sànchez ter admitido permitir a investidura da ERC sem integrar o governo.

Sànchez, antigo líder da Associação Nacional Catalã, o grupo que mobilizou o independentismo nas ruas, antes de este entrar no programa dos partidos, é um dos condenados no processo dos independentistas na Catalunha. Assumiu a secretaria do Junts o ano passado e é a partir da prisão de Lledoners que tem dirigido as negociações.

Em reacção às palavras de Aragonès, Sánchez diz lamentar a opção da ERC e garantiu a “vontade de alcançar acordos”. Na sua ausência, e se Aragonès se apresentar à votação dos deputados, o Junts cederá o voto de quatro dos seus eleitos, o que chegará se a ERC confirmar os votos dos deputados da CUP (anticapitalistas) e do En Comú Podem (o Podemos catalão, que é contra a independência mas apoia o direito de os catalães votarem para decidir o seu futuro).

O candidato da ERC à presidência da Generalitat já viu a sua candidatura chumbada duas vezes pelos deputados, em Março, contando apenas com os votos a favor da CUP e com a abstenção do Junts, para além dos votos contra do Podemos catalão.

Aragonès argumenta que só decidiu avançar para esta solução face à falta de “predisposição [do Junts] para superar questões” básicas de um futuro acordo, como a própria estratégia independentista.

Fora do campo independentista, a líder do En Comú Podem no parlamento, Jéssica Albiach, pediu a Aragonès para abrir a porta a “um govern com forças progressistas”, que poderia juntar os dois partidos e a CUP. “Temos o parlamento mais progressista da história da Catalunha, e insistimos em ter um governo forte, sólido e de transformação”, disse. O ponto de partida de umas negociações a três, acrescentou, poderia ser o pré-acordo alcançado entre a ERC e a CUP.

“Estendemos a mão à ERC, mas os projectos de En Comú Podem e do Junts são incompatíveis”, recordou Albiach.

Apesar de o Partido Socialista ter sido o mais votado, o conjunto dos partidos independentistas conseguiu reforçar a sua maioria, passando pela primeira vez os 50%. A grande mudança foi a relação de forças, com a ERC a ultrapassar o Junts.

Defendendo que não há condições para romper politicamente com Espanha no imediato, a ERC que dar uma oportunidade às conversações com Espanha, negociando a realização de um referendo de autodeterminação e tentando alcançar um acordo para a amnistia dos políticos e activistas condenados por sedição. Já a direita tradicional do Junts insiste em impor a independência a Madrid.

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