A frase

“Foi na envolvente dos Passadiços do Paiva, junto à cascata das Aguieiras, que nasceu a 516 Arouca, mais uma obra singular que faz da região uma referência global. A maior ponte pedonal suspensa do mundo liga as duas margens, 175 metros acima do rio Paiva.”

Site oficial da ponte 516 Arouca

O contexto

A ponte 516 Arouca, finalmente inaugurada no dia 2 de Maio, estava em planos desde 2016 e em construção desde 2018. Quando começou a ser projectada, concorria com a estrutura suíça Charles Kuonen de 494 metros, inaugurada em 2017. Em comunicado, a Câmara Municipal de Arouca reitera que os seus 516 metros de comprimento, 175 metros de altitude, a envergadura construtiva com engenharia de ponta e a capacidade para suportar simultaneamente duas mil pessoas fazem dela a maior do mundo. "O gabinete que a projectou e os responsáveis autárquicos, depois de aturada pesquisa, chegaram à conclusão que seria a maior ponte pedonal suspensa do mundo”, recorda a autarquia, sublinhando que desde 2018 que é comunicada pelo epíteto.

Não fosse a pandemia, teria sido inaugurada ainda no Verão de 2020. Acontece que, sem grande aparato mediático, ergueu-se oficialmente em Julho de 2020 uma ponte pedonal suspensa no Nepal mais comprida, com 567 metros — a Baglung Parbat. À luz da revelação de que a ponte de Arouca podia estar a ser erradamente classificada como a maior do mundo, a Câmara argumenta que a ponte do Nepal difere nas restantes dimensões e características. “Trata-se de uma ponte de travessia rural, dimensionada para cargas muito reduzidas, e sobre a qual existe pouca evidência científica e mediática”, adianta.

Como tal, considera a recente polémica como “totalmente estéril”, acrescentando que “em nada belisca a grandiosidade da obra que Arouca tem para mostrar ao mundo, e que está plasmada no interesse demonstrado por praticamente todos os órgãos de comunicação nacionais e internacionais e pelo número de reservas que têm sido efectuadas para visitar”. À Fugas, fonte da autarquia assegurou que a câmara municipal vai manter o slogan da ponte.

Os factos

O galardão da ponte pedonal suspensa mais longa do mundo pertence, actualmente, à japonesa Kokonoe Yume, inaugurada em 2006 com 390 metros, de acordo com o registo oficial no site do Guinness World Records. Mas, na verdade, em 2017 a ponte Charles Kuonen, inaugurada nos Alpes suíços, já tinha elevado a fasquia para os 494 metros — ainda que não tenha recebido o reconhecimento recordista.

A ponte Baglung Parbat, no Nepal, atravessa o Rio Kaligandaki para fazer a ligação entre o município de Kushma, no distrito de Parbat, com Baglung. Com 567 metros de comprimento e 122 de altitude, a ponte nepalesa consegue suportar 612 pessoas ao mesmo tempo. A construção terminou em Julho de 2020, com três meses de antecedência, e embora não tenha sido oficialmente inaugurada por faltarem alguns acabamentos, já se encontra em utilização pelos locais.

De acordo com o jornal nepalês Khabarhub, a ponte deve ser registada em breve no Guinness World Records, como a mais longa do mundo. O oficial de informação do município de Baglung, Yukta Prasad Subedi, disse ao jornal que as estatísticas necessárias da ponte foram enviadas ao Departamento de Estatística para verificação. Apesar disso, a nação já ostenta o título da ponte pedonal suspensa mais longa do mundo.

Em resumo 

No contexto (recordista) em questão, por “maior” depreende-se a ponte mais longa ou mais comprida. Ou seja, apesar de as restantes características divergirem entre todas as pontes envolvidas na polémica, o único factor relevante é, na verdade, o número de metros que se estendem pela travessia pedonal. Ora, se a ponte nepalesa Baglung Parbat (de 567 metros) ultrapassa a ponte de Arouca (de 516 metros) por 51 metros, então é, à partida, a maior ponte pedonal suspensa do mundo — e a nomenclatura usada pela ponte 516 Arouca é falsa.

Contudo, por enquanto, a ponte japonesa Kokonoe Yume, com 390 metros, mantém-se a detentora do título oficial verificado pelo Guinness World Records — pelo menos até a entidade confirmar que a ponte nepalesa Baglung Parbat ultrapassou o recorde.