O “homem das cinzas de Zhueros” e a poesia da terra

“Esse será o legado para os meus filhos e netos, ver como o bosque vai cobrindo a terra e depressa escutar apenas cantos de aves e algum som ainda desconhecido” - de uma ‘carta’ de António Zafra, o “homem das cinzas de Zhueros”, a Pedro Garcias.

Foto
Enric Vives-Rubio

Voltei a ter notícias de António Zafra, o “homem das cinzas de Zhueros”, aldeia andaluza rodeada de olivais. Numa crónica recente, recordei o dia em que, há muito tempo, visitei o seu pequeno olival situado a meio de uma encosta de calcário e onde me confessou o desejo de, após a sua morte, ver ali depositadas as suas cinzas. Alguns dias depois, recebi este mail: “Querido amigo Pedro, o mundo do olival como a poesia é afinal tão universal como pequeno. Graças a ele, o meu vizinho Marcelo Scofano, que chegou a Zhueros vindo do Rio de Janeiro, movido pela seiva que é o azeite, passou-me o arquivo do teu artigo donde recordas o nosso encontro, há quase 20 anos, mas com uma memória que parece que estivemos juntos ontem pela tarde, quando também eu passeava as minhas saudades entre as velhas oliveiras das Quebradillas. Não podia receber melhor presente de aniversário, que será na próxima sexta-feira, do que as tuas palavras e, sobretudo, o sentimento partilhado acerca do destino das nossas cinzas, entre vinhas, figueiras, oliveiras, rochas, pedras… que aliviam o nosso peso animal para fazer-nos vegetais, pequenas partículas minerais (…)”.

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