A crise climática dá um impulso para salvar os ornitorrincos da extinção

Na Austrália, os ornitorrincos estão ameaçados por um clima rigoroso, secas, incêndios florestais e poluição nos rios. Mas ainda não é tarde para intervir e salvar da extinção esta população de mamíferos, alertam os investigadores da Universidade de Nova Gales do Sul.

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Reuters/JAMES REDMAYNE

Basta ouvirem um ruído e verem o agitar de uma bóia cor de laranja a flutuar no rio Thone para que dois cientistas australianos saibam que encontraram o que procuravam: o esquivo ornitorrinco australiano.

Famoso pelo seu bico, as membranas interdigitais nos pés e esporões venenosos, o ornitorrinco é um dos dois únicos mamíferos do mundo que põem ovos. Muitos australianos nunca viram um em ambiente selvagem.

O animal semi-aquático está cada vez mais ameaçado por fenómenos climáticos extremos, motivando esforços para monitorizar os números de indivíduos da espécie e tomar medidas para travar o seu desaparecimento.

“Não há muito conhecimento sobre como os incêndios afectam os ornitorrincos”, afirma Gilad Bino, ecologista da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW). Segundo um estudo de 2020 da UNSW, nos últimos 30 anos, o número de ornitorrincos caiu cerca de 30% e mais de um quinto do seu habitat foi destruído. 

Após um período de seca prolongado e terríveis incêndios florestais na costa centro-norte do estado de Nova Gales do Sul, em 2019, os investigadores Gilad Bino e Tahneal Hawke encontraram muito menos ornitorrincos nos canais de água queimados de Dingo e Bobin Creeks, em comparação com zonas não ardidas no rio Thone. Regressaram em Abril, após fortes cheias.

“Os incêndios florestais vão tornar-se mais graves e, evidentemente, temos estes eventos de inundação a ocorrer com maior frequência, por isso acho que este estudo nos dará uma indicação sobre como as populações de ornitorrincos irão responder a esses fenómenos”, disse Tahneal Hawke.

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Os investigadores capturam os ornitorrincos com redes, dão-lhes um tranquilizante e colocam-lhes identificadores electrónicos. Recolhem amostras de sangue e urina, fazem uma biópsia para análise em laboratório e guardam saliva e pêlo para avaliar a dieta dos ornitorrincos.

Numa noite, em Abril, capturaram um ornitorrinco sem identificação. “Foi muito entusiasmante. Isto significa que existem mais ornitorrincos aqui do que aqueles que imaginávamos”, contou Gilad Bino, citado pela Reuters.

Além do clima rigoroso, as barragens, o desbravamento de terrenos e o desvio de cursos de água têm dificultado a sobrevivência da população de ornitorrincos. O gado destruiu as margens dos rios essenciais para as tocas destes mamíferos. As espécies invasoras, as redes de pesca e o lixo de plástico também os prejudicaram.

Gilad Bino sublinhou que os rios e riachos precisam de ser protegidos e reflorestados para uma população de ornitorrincos saudável.

“Acho que só ouvimos falar de muitas espécies em risco quando já é tarde demais, quando chegam a um limite - o ponto de não retorno”, disse Tahneal Hawke. “Mas aqui temos uma oportunidade verdadeiramente única, se interviermos agora, podemos evitar extinções no futuro e, esperemos, o ornitorrinco estará na Terra por muitas mais gerações”, acrescentou.