Comissão Eleitoral abre investigação à remodelação feita por Johnson no apartamento de Downing Street
Organismo independente diz que há “razões suficientes” para se suspeitar que possam ter sido cometidas infracções. Primeiro-ministro britânico garante que as obras não foram pagas com dinheiro de financiadores do Partido Conservador.
A Comissão Eleitoral do Reino Unido abriu esta quarta-feira uma investigação formal ao financiamento dos trabalhos de remodelação do apartamento onde o primeiro-ministro e a família residem, no andar de cima do número 11 de Downing Street, em Londres.
“Estamos convencidos de que há razões suficientes para se suspeitar que possa ter sido cometida uma infracção ou infracções. Vamos, por isso, dar seguimento a este processo através de uma investigação formal para determinar se foi esse o caso”, informa em comunicado o organismo independente, responsável pela regulação das actividades financeiras dos partidos políticos.
Boris Johnson foi acusado pelo seu antigo conselheiro Dominic Cummings – com quem se incompatibilizou – de ter planeado utilizar uma doação feita por um financiador do Partido Conservador para “pagar secretamente” pela remodelação do apartamento. Um projecto que o Cummings diz ser “antiético, absurdo e possivelmente ilegal”.
Segundo a lei, o primeiro-ministro britânico tem um fundo anual de 30 mil libras (cerca de 35 mil euros), pago pelos contribuintes, que pode utilizar para fazer remodelações e mobilar a sua residência oficial. Se o limite desse fundo for ultrapassado, o remanescente terá de sair do bolso do detentor do cargo.
Caso a Comissão Eleitoral chegue à conclusão de que as transacções não cumpriram os seus regulamentos e a lei do financiamento dos partidos, Johnson e outros envolvidos podem ser multados e o caso pode mesmo ser transferido para as autoridades policiais.
O primeiro-ministro tory e o Governo garantem, porém, que os trabalhos realizados na habitação foram pagos pelo próprio Johnson e que este “agiu de acordo com a lei”.
O Partido Trabalhista, na oposição, insiste, ainda assim, na narrativa de que a primeira tranche do pagamento foi feita com dinheiro doado ao Partido Conservador, por um empresário, em troca de possíveis vantagens.
“Fui eu que cobri as despesas. Agi totalmente em conformidade com o código de conduta [ministerial] e fui sempre aconselhado pelos responsáveis indicados durante todo o processo”, afiançou Boris Johnson, na sessão plenária desta quarta-feira na Câmara dos Comuns de Westminster.
O chefe do executivo britânico tem estado debaixo de fogo nos últimos dias, por causa de uma série de acusações sobre alegados comportamentos de “corrupção”, “nepotismo” e “lobbying” levados a cabo pelo seu Governo, por si e pelo antigo primeiro-ministro conservador, David Cameron.
As denúncias de Cummings – estratego da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia e da campanha dos conservadores para as legislativas de 2019 – foram a resposta do próprio ex-conselheiro às suspeitas de que teria sido ele a divulgar à imprensa uma série de mensagens de texto trocadas entre o primeiro-ministro e um empresário multimilionário que forneceu ventiladores ao serviço nacional de saúde britânico sobre um pedido de isenções fiscais.
Para além destes casos, o primeiro-ministro do Reino Unido também está a ser fortemente criticado por causa de uma notícia publicada pelo jornal conservador Daily Mail, que diz que Boris Johnson terá respondido à possibilidade de impor um confinamento em Outubro do ano passado, no âmbito do combate à pandemia, com a seguinte frase: “Chega de confinamentos de merda – deixem os corpos empilhar-se aos milhares” (“No more fucking lockdowns – let the bodies pile high in their thousands”, no original).
Questionado esta quarta-feira no Parlamento sobre o caso, Johnson voltou a negar veementemente a utilização dessas expressões.
As polémicas dos últimos dias vieram abanar uma campanha até aqui relativamente calma do Partido Conservador para as eleições da próxima semana – locais e municipais em Inglaterra e legislativas na Escócia e no País de Gales.