A maldição das imagens coloniais
A insistência em repetir que a guerra colonial carece de registos visuais tende a desprezar o facto de que a imprensa portuguesa a apresentou ao público com a maior das campanhas de imagens de choque. E isto foi determinante na forma como o conflito foi travado, narrado e como viria a ser relembrado. Foram precisos 60 anos, e apenas uma fotografia em sentido contrário, para que se questionasse esta exposição.
Uma onda de terror assolou o Sul de França no verão de 1957, à medida que milhares de pessoas em férias se depararam com a chegada de uma ruidosa coluna militar às praias. Os soldados levavam filmes e fotografias chocantes de cadáveres mutilados e crianças decapitadas, e exibiram-nas como obra dos independentistas na Argélia. O impacto traumático desta acção-relâmpago foi calculado para abalar a vida civil e criar pânico moral. Ao violar o contrato social contra a exposição pública de nudez, morte e violência, esta chantagem emocional impunha, enquanto saída única, uma solução militarizada que excedesse também os códigos morais vigentes.
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