Foram identificadas 272 espécies potencialmente invasoras em águas interiores de Portugal e Espanha. Essas espécies são elencadas na Lista de Espécies Exóticas Potencialmente Invasoras na Península Ibérica 2020, que foi disponibilizada esta semana em português, espanhol e inglês. Também foi publicada a Lista de Espécies Exóticas Aquáticas da Península Ibérica 2020, onde se identificam 306 espécies introduzidas nas águas interiores ibéricas. Dessas, 200 estão “claramente estabelecidas ou naturalizadas”, o que implica um elevado risco para o ambiente e a economia.
Na Lista de Espécies Exóticas Potencialmente Invasoras na Península Ibérica 2020 estão identificadas as espécies que já estão em fase de transporte ou introdução em Portugal e Espanha. Dessa forma, “devem ser tidas em conta nos sistemas de alerta precoces” destes países, sublinha-se numa notícia da agência espanhola Efe. “Na maioria dos casos, estas espécies estão a chegar à península como animais de estimação, para fins ornamentais ou através da aquicultura.”
Pedro Anastácio, que fez parte da equipa de planeamento e coordenação do trabalho, clarifica que estas espécies ainda não se estabeleceram no país. Algumas delas estão presentes de forma confinada – por exemplo, em aquários – e outras chegaram, mas ainda não se estabeleceram. Entre as espécies identificadas estão o lagostim-marmoreado (à venda recentemente em lojas de aquariofilia, apesar de proibido), o cabeça-de-cobra (um peixe) ou a cabomba-verde (uma planta).
Esta lista foi elaborada por 60 especialistas de mais de 30 instituições de Portugal e Espanha. Impulsionada pelo projecto europeu Life Invasaqua, esta lista quer ser a base para prevenção e alerta precoce para administrações dos dois países, assim como para promover a cooperação transnacional. O Life Invasaqua é um projecto ibérico que em Portugal inclui a Universidade de Évora, o Mare – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e a Aspea – Associação Portuguesa de Educação Ambiental.
Pedro Anastácio, que coordenou a equipa do projecto na Universidade de Évora, refere que esta é a primeira vez que se faz algo deste género de forma exaustiva e para esta área geográfica. “Já havia listas de espécies exóticas reportadas em águas interiores quer em Espanha quer em Portugal, no entanto, esta nova lista inclui uma avaliação do potencial invasor de espécies exóticas não reportadas ainda nas águas interiores, de modo a avaliar o seu potencial de invasão e definir o seu estatuto como espécies potencialmente invasoras.” Filipe Ribeiro (do Mare – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Universidade de Lisboa, e da Sociedade Ibérica de Ictiologia) também fez parte da equipa de coordenação destas listas.
Do peixe-gato-europeu ao jacinto-de-água
Já na Lista de Espécies Exóticas Aquáticas da Península Ibérica 2020 constata-se que das 306 espécies identificadas menos de 40% estão na lista europeia ou nas listas nacionais de Espanha ou Portugal. O que é que isso quer dizer? Que a detenção ou comercialização de espécies não incluídas nessas listas ainda é permitida, assinala-se na notícia da EFE.
Nessas mais de 300 espécies os grupos mais representados são vertebrados, crustáceos e moluscos. As plantas aquáticas exóticas também têm um “número elevado”. Esses grupos representam mais de 70% das espécies estabelecidas.
Nesta lista, também impulsionada pelo Life Invasaqua, há espécies mais conhecidas como o peixe-gato-europeu, o mexilhão-zebra e o jacinto-de-água. Mas estão presentes também outras menos conhecidas, nomeadamente a rã-de-unhas-africana, a perca-sol, o lagostim-sinal, a amêijoa-asiática ou a azola.
“Estas listas são ferramentas para compreender e gerir as vias de introdução de espécies exóticas em sistemas de água doce e estuários, bem como para comunicar a dimensão do problema a todas as autoridades e partes interessadas relacionadas”, afirma Spyridon Flevaris, responsável pelas políticas de biodiversidade da Comissão Europeia, citado pela Efe. As listas poderão assim servir de base para o acompanhamento do objectivo da Estratégia da União Europeia para a Biodiversidade até 2030 para combater espécies exóticas invasoras, bem como pôr em prática outras directivas europeias.
Estas listas são assim mais um contributo nas medidas de detecção precoce e de resposta rápida para combater as invasões biológicas. Além das listas, já foram produzidos guias de espécies exóticas e invasores da Península Ibérica em português, espanhol e inglês, com o objectivo de facilitar a identificação de espécies e vários códigos de conduta para certos grupos, como agricultores ou aquariófilos. “Tudo isto, e várias outras iniciativas, facilita a comunicação com as autoridades e com os grupos de risco, potenciando a capacidade de vigilância e monitorização”, considera Pedro Anastácio.