O meu partido é Lisboa (2)

As únicas forças verdadeiramente e antecipadamente vencedoras das próximas eleições autárquicas são as forças da cidadania activa e participativa.

O número 2 neste título refere o facto de ele ser utilizado pela segunda vez. Com efeito, ele foi utilizado anteriormente por mim numa análise crítica do percurso político de António Costa ilustrado pelo título do seu livro Caminho Aberto. Tratava-se de um cargo como presidente da autarquia constituir apenas um ‘trampolim’ para “voos mais altos”, como, aliás, se veio a confirmar.

O que se pretende de um candidato à Câmara Municipal de Lisboa? Um genuíno interesse e apelo baseado num conhecimento profundo dos verdadeiros desafios da cidade adquirido por anos de observação, reflexão e participação. Tudo isto, traduzido numa grande capacidade de gestão consciente e cuidada junto a efectiva visão estratégica, equilibrada entre desenvolvimento e salvaguarda, também com adequada sensibilidade para as questões sociais e a urgência no campo da habitação.

Ora, Carlos Moedas apresentou uma declaração de amor à cidade baseada ‘numa mão cheia de nada’ incapaz de nos convencer da sua maturidade de conhecimento dos verdadeiros desafios da cidade no presente e no futuro. Ficámos com a impressão de que ele constitui apenas o candidato de forças políticas moribundas, que assim e desesperadamente procuram um renascimento.

Fica-se nitidamente com a impressão de que, em essência, não se trata de uma ‘Fénix’, mas de uma inefectiva e mera jogada política definida pelo vazio de um falso mérito passado.

Ou não perceberam ainda os chamados ‘liberais’ devastados por anos e anos de materialismo feroz e ganancioso que Joe Biden revelou-se fortemente não apenas como o candidato anti-Trump, mas também, e cada vez mais, como o anti-Reagan? O seu novo “New Deal” é baseado na consciência de que a sensibilidade das classes trabalhadoras e populares ao populismo irracional surge das profundas desigualdades criadas pelo neoliberalismo.

Os ‘35 anos a bazucar’ (título de Miguel Sousa Tavares) ilustraram perfeitamente e dramaticamente as teias e ‘polvos’ desenvolvidos por toda uma geração a que podemos chamar a geração do ‘Compromisso Portugal’ com políticos, gestores, empresários, banqueiros que nos levaram agora às encruzilhadas sucessivas e inefectivas da justiça e ao impasse de uma classe política cada vez mais desprestigiada.

As únicas forças verdadeiramente e antecipadamente vencedoras das próximas eleições autárquicas são as forças da cidadania activa e participativa. No entanto, estas forças, constituídas por grupos heterogéneos e flutuantes de cidadãos, unidos apenas por temas, mas com diferentes, variadas e pluralistas motivações e convicções, mantêm-se exteriores às definições de campos políticos.

Daí os partidos políticos tentarem ‘agarrar’ e conduzir este autêntico potencial com promessas aliciantes aos ‘independentes’. Disso, já tivemos com fartura com Sá Fernandes e Helena Roseta, que viabilizaram constantemente e sistematicamente a gestões de Costa e de Medina.

Com os tais 35 anos criámos legiões de órfãos. Toda uma juventude licenciada mas exilada, numa gigantesca diáspora.

Não nos espantemos, portanto, que nós, como votantes, sejamos também ‘órfãos políticos’ sem candidatos que nos representem, capazes de nos libertarem do ‘limbo’ a que fomos condenados.

E isto numa Lisboa que até ao ciclo corona estava prisioneira de monoculturas destruidoras (turismo de massas, omnipresente alojamento local, crise da habitação, omnipotente imobiliário especulativo, monocultura exclusiva dos hotéis., etc..) e terá que enfrentar profundos, e até agora incertos, desafios futuros no período pós-corona.

Um é claro e sobrepõe-se a todos os outros: as alterações climáticas.

Sim, quando caoticamente a caixa de Pandora foi aberta, e tudo se escapou e diluiu num ápice, como neve derretida sobre o Sol, a única coisa que ficou foi a esperança.

A minha esperança vai para uma cidadania cada vez mais activa, maduramente crítica e verdadeiramente independente.

Como já afirmei anteriormente: a cidadania exerce-se. A cidadania não vai a votos!

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