Biólogo Luís Ceríaco ganha bolsa da National Geographic

Com este apoio, o biólogo português organizará uma expedição a Angola, à Serra da Neve, um oásis de vegetação na savana.

repteis,ciencia,portugal,angola,biodiversidade,biologia,
Fotogaleria
Serra da Neve, Angola DR
repteis,ciencia,portugal,angola,biodiversidade,biologia,
Fotogaleria
DR

O biólogo Luís Ceríaco, que é curador-chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, recebeu uma bolsa de explorador da National Geographic Society para conhecer a biodiversidade da Serra da Neve, em Angola. “Claro que o dinheiro ajuda, mas ter a chancela da National Geographic Society a apoiar um projecto dá outro prestígio”, comenta o biólogo.

Localizada na província do Namibe, a Serra da Neve é o segundo pico mais alto de Angola, com 2489 metros de altitude (o mais alto é o Morro do Moco, na Província do Huambo). Além de alta, esta serra é também grande, ocupando aproximadamente 630 quilómetros quadrados.

Foto
O biólogo Luís Ceríaco na Serra da Neve com comunidade local em 2019 Mariana Marques

A Serra da Neve é o que geólogos e geógrafos designam por um “monte-ilha” (do alemão inselberg), emergindo abruptamente da paisagem que está à sua volta. Encontra-se coberta pela vegetação da floresta de miombo – um tipo de floresta caracterizado pela presença de árvores dos géneros Brachystegia e Julbernardia, sendo dos tipos de habitat mais comuns em Angola, na Zâmbia e no Zimbabwe, entre outros países. Contrasta com a aridez das savanas circundantes da floresta de mopane um tipo de floresta mais esparsa, típica de zonas secas como o Sul de Angola, a Namíbia e o Botswana, em que as árvores da espécie Colophospermum mopane são dominantes.

Para os biólogos, o oásis de vegetação do monte-ilha que é a Serra da Neve desperta bastante interesse porque, estando isolado de outras montanhas, essa circunstância permite ali a evolução de espécies únicas. “O isolamento geográfico e ecológico, a fauna e flora por estudar e a descoberta de espécies endémicas transformam a Serra da Neve num local muito promissor para os cientistas”, salienta-se num comunicado da Universidade do Porto.

A bolsa da National Geographic Society atribuída a Luís Ceríaco permitir-lhe-á agora fazer um levantamento exaustivo na Serra da Neve de vários grupos taxonómicos de plantas, insectos, mamíferos, aves, anfíbios e répteis. O biólogo já tinha estado em duas visitas de campo exploratórias na Serra da Neve, em 2016 e 2019. Daí resultou já a descrição de três novas espécies para a ciência: o sapo-pigmeu Poyntonophrynus pachnodes, de 31 milímetros de comprimento e cuja característica mais distintiva é a ausência de ouvidos; o lagarto-espinhoso Cordylus phonolithos; e a osga Lygodactylus baptistai (osga-diurna-de-baptista).

Agora o objectivo da expedição exaustiva é documentar toda a biodiversidade ainda desconhecida da Serra da Neve, compreender as relações entre as espécies e o ambiente e, claro, identificar outras espécies novas. Luís Ceríaco pensa partir até ao final do ano para um mês de trabalho de campo com uma equipa que incluirá, além de portugueses, cientistas angolanos do Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação, norte-americanos e alemães.

O biólogo espera que os dados desta inventariação da biodiversidade da Serra da Neve sirvam às autoridades angolanas para apoiar a criação de uma área protegida no local.

Até ao momento, Luís Ceríaco, de 33 anos, conta no currículo com a descrição de 27 espécies novas – a última é uma osga da República Democrática do Congo.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários