Segundo maior aumento anual de emissões de carbono projectado para 2021
Economias do globo estão a reinvestir nos combustíveis fósseis para responder à recessão pós-pandemia, tal como o fizeram na última crise financeira, há dez anos.
Um ano depois de uma queda significativa explicada pelos confinamentos generalizados, pela redução do tráfego aéreo e pela limitação da produção industrial, no âmbito do combate à pandemia de covid-19, 2021 já está a caminho do segundo maior aumento anual de emissões de dióxido de carbono para a atmosfera a nível global.
Esta previsão “terrível” faz parte do Global Energy Review 2021, o relatório anual da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), divulgado nesta terça-feira, e encontra explicação na estratégia de muitas economias mundiais – particularmente no continente asiático, mas também nos Estados Unidos e na Europa – para responderem à recessão económica pós-pandemia.
“As emissões globais de CO2 relacionadas com a energia estão projectadas para uma retoma e um crescimento até 4,8%, já que a procura de carvão, de petróleo e de gás está a ressurgir, a par da economia. Será o maior aumento (…) isolado desde a recuperação económica com produção intensiva de carbono da crise financeira mundial, há mais de uma década”, lê-se no relatório.
Tal como em 2010, o ano que registou o maior aumento isolado de emissões de CO2 da História (6%), diversos países preparam-se também agora para investir fortemente nos combustíveis fósseis.
“Estamos outra vez a caminho de vir a repetir os mesmos erros. Estou mais desapontado agora do que em 2010”, confessa Fatih Birol, director executivo da IEA, temendo que, por causa da crise pandémica, os Estados deixem cair as metas ambientais a que se comprometeram para combater as alterações climáticas durante a próxima década.
“Isto é chocante e muito perturbador. Por um lado, os governos estão hoje a dizer que as alterações climáticas são a sua prioridade. Mas, por outro lado, estamos a assistir ao segundo maior aumento de emissões da História. É verdadeiramente decepcionante”, afirma Birol, em entrevista ao Guardian.
Segundo a IEA, as emissões de carbono podem aumentar mais de 1,5 mil milhões de toneladas este ano, para um total de 33 mil milhões de toneladas.
Apesar de ligeiramente abaixo dos níveis máximos registados em 2019, o regresso em força da aviação e da produção industrial em massa faz prever que os níveis de CO2 continuem a aumentar e possam chegar a novos máximos já em 2022, fazendo das reduções históricas de 2020 uma simples nota de rodapé deste trajecto poluente ascendente.
“Só a procura do carvão está projectada para aumentar mais 60% do que todas as energias renováveis combinadas”, sublinha o Global Energy Review 2021. “Está a caminho de um crescimento de 4,5% em 2021, com mais de 80% desse crescimento concentrado na Ásia. A China, sozinha, deve corresponder a mais 50% do aumento a nível mundial. A procura de carvão nos EUA e na União Europeia também está a retomar.”
Citado pelo Financial Times, Birol pede aos líderes mundiais que vão participar na cimeira virtual climática desta semana, organizada pela Administração Biden, que se comprometam a tomar “acções claras e imediatas” para cumprirem as metas traçadas até 2030 – reduzir as emissões de dióxido de carbono em 45%.