Organizações humanitárias pedem “acções imediatas” no combate à fome

Centenas de organizações não-governamentais exigem aos governos de todo o mundo, numa carta aberta, que desbloqueiem os 4,5 mil milhões de euros necessários para a assistência alimentar em várias zonas do planeta. “As pessoas estão a ser levadas a passar fome”, acusam as ONG.

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Um dos países em risco é a Somália Thomas Mukoya

Mais de 250 organizações não-governamentais (ONG) chamam a atenção para o agravamento da fome em todo o mundo por causa da pandemia de covid-19, numa carta aberta que serve também para pedir aos líderes políticos internacionais que libertem os 5,5 milhões de dólares (4,5 mil milhões de euros) necessários para que os problemas mais urgentes possam ser enfrentados.

“Estas pessoas não estão a passar fome, estão a ser levadas a passar fome”, acusam as organizações, que se referem em particular aos 34 milhões de pessoas em todo o mundo que estão a um passo da fome”.

“Raparigas e rapazes, homens e mulheres, estão a ser empurrados para a fome por causa dos conflitos, das desigualdades, dos impactos das alterações climáticas e da perda de terras, de postos de trabalho e de perspectivas”, lê-se na carta aberta publicada no site do Conselho Internacional das Agências de Voluntariado.

A pandemia de covid-19 veio “deixá-los ainda mais para trás”, à mercê da falta de financiamento, de uma ajuda humanitária mais limitada e de conflitos violentos em vários países.

De acordo com as organizações, são as acções humanas que estão a agravar a situação, mas são também elas que podem revertê-la ou atenuá-la, porque “não há lugar para a fome no século XXI”.

“Apelamos a que disponibilizem os 5,5 mil milhões de dólares [4,5 mil milhões de dólares] adicionais necessários para que a assistência alimentar urgente chegue a mais de 34 milhões de raparigas, rapazes, mulheres e homens em todo o mundo que estão a um passo do risco crítico de fome”, dizem as organizações na carta aberta.

O apelo surge na sequência de um relatório das Nações Unidas, publicado em Março, sobre os 20 países em risco de verem a sua população a cair numa situação grave de fome ainda este ano. No documento, a ONU reforçou o apelo para que os países levantem as restrições à entrada de ajuda humanitária.

No relatório publicado em Março, a ONU avisou que as populações do Iémen, do Sudão do Sul e da Nigéria estão prestes a cair num “nível catastrófico” de fome, sendo que Angola e Moçambique estão, também, entre os países em risco – no norte de Moçambique, quase um milhão de pessoas passam fome severa.

Além de mais financiamento para a ajuda humanitária, as organizações apelam a uma intervenção directa dos Estados para o fim dos conflitos que são fonte de sofrimento diário para milhões de pessoas em todo o mundo. E há que dar às pessoas “as ferramentas de que necessitam para construírem futuros mais resilientes para si próprias, para se adaptarem de forma sustentável às alterações climáticas e para se protegerem dos choques provocados pela covid-19”.

Num anterior apelo da ONU, em Fevereiro, a organização recordou que alguns dos países que agora enfrentam “níveis catastróficos” de fome já estavam “à beira do risco crítico de fome” em 2017, nomeadamente o Sudão do Sul e o Iémen. Consequências que as organizações não-governamentais não querem ver repetidas: “A história irá julgar-nos a todos pelas acções que hoje tomamos.” Texto editado por Alexandre Martins.

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