Superliga europeia está a ruir e já tem uma mão-cheia de dissidentes

Cerca de 48 horas depois do anúncio da nova competição europeia de futebol, reservada à elite e vedada à “plebe”, o projecto parece estar a desmoronar-se.

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Adeptos do Chelsea protestam em Londres LUSA/NEIL HALL

É provável que, afinal, a montanha tenha parido um rato. Nesta terça-feira, enquanto o jogo da Premier League entre o Chelsea e o Brighton decorria, a Superliga europeia começou a cair aos pedaços, com o Manchester City a anunciar a saída do projecto. “O Manchester City pode confirmar que iniciou formalmente o processo de sair do grupo que estava a desenvolver planos para uma Superliga europeia”, adiantou, em comunicado.

Acabou por ser um passo natural tendo em conta a bolha de pressão que se foi criando, especialmente em Inglaterra. Ainda antes de esta posição dos “citizens” se tornar oficial, já o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a tinha dado como praticamente garantida, metendo também o Chelsea ao barulho. “A decisão tomada pelo Chelsea e pelo Manchester City é — a confirmar-se — absolutamente certa e congratulo-os por isso. Espero que os restantes clubes envolvidos na Superliga Europeia sigam a mesma deixa”, publicou no Twitter.

Já ao final desta noite, a dissidência inglesa deu-se por completo: Liverpool, Manchester United, Tottenham e Arsenal também confirmaram a saída da Superliga.

Cerca de 48 horas depois do anúncio da nova competição europeia de futebol, reservada à elite e vedada à “plebe”, tudo está a cair. Era só bluff para pressionar a UEFA? Foi um plano mal pensado? O projecto era mau? Talvez um pouco de tudo isto.

A ideia dos “dirty 12” — epíteto usado pelo presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, para definir os 12 fundadores da Superliga — ganhou rapidamente um tremendo capital de desdém pelo mundo fora, merecendo críticas de jogadores, treinadores, clubes, federações, comentadores, adeptos, UEFA, FIFA e até mesmo agentes da esfera política. No fundo, exceptuando os 12 envolvidos, ninguém parecia estar de acordo com o formato e a filosofia da prova.

Este desfecho é, à luz dessa perspectiva, relativamente natural. E o cenário de eventual saída de outros dos membros fundadores ganha força com a pressão popular — no caso do Chelsea, foram concorridos e ruidosos os protestos organizados nesta terça-feira pelos adeptos, em Londres. Antes do jogo frente ao Brighton, em Stamford Bridge, cerca de mil pessoas pediram efusivamente que o clube liderado por Roman Abramovich recuasse na ideia de pertencer à elite e regressasse à esfera da UEFA.

As críticas de Pep Guardiola

No caso do Manchester City, a decisão parecia já estar escrita nas estrelas, tendo em conta a forma contundente como Pep Guardiola, treinador dos “citizens”, criticou a nova prova. “O desporto não é desporto quando não existe relação entre esforço e recompensa. Não é desporto se o sucesso é garantido ou se a derrota não importa”, apontou o catalão.

Para além da posição de adeptos, treinadores e jogadores, a pressão da UEFA, que ameaçou banir das competições os clubes e os futebolistas que aderissem à Superliga, terá precipitado o recuo.

O presidente da UEFA, de resto, foi dos primeiros a reagir à decisão do Manchester City. “Estou encantado por dar as boas-vindas de volta ao Manchester City à família do futebol europeu. Mostraram grande inteligência ao ouvirem muitas vozes — principalmente as dos fãs”, afirmou Aleksander Ceferin, que já tinha sugerido que os clubes dissidentes ainda estavam a tempo de reconsiderar.

Há, de resto, um terceiro clube inglês a sofrer uma grande pressão. Trata-se do Liverpool, cujos jogadores se manifestaram claramente contra o projecto. Jordan Henderson, capitão de equipa, publicou no Twitter uma mensagem que revela que o plantel está unido na reprovação da Superliga. “Não gostamos e não queremos que aconteça. Esta é a nossa posição colectiva. O nosso compromisso com este clube de futebol e os seus adeptos é absoluto e incondicional”, pode ler-se numa publicação também avançada por outros jogadores, como James Milner e Trent Alexander-Arnold.

Na qualidade de um opositor feroz e assumido à competição, à imagem de muitas outras congéneres europeias, também a federação inglesa (FA) se congratulou com a decisão do City. “O futebol inglês tem uma história de orgulho baseada em oportunidades para todos os clubes e o jogo tem sido unânime na reprovação de uma Liga fechada”, pode ler-se num comunicado, que acrescenta: “Acolhemos com agrado as notícias de que alguns dos clubes decidiram abandonar os planos de uma Superliga, que ameaça toda a pirâmide do futebol”. Uma pirâmide em vias de desabar. 

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