Modi não vem à cimeira UE-Índia
Agravamento da pandemia no subcontinente leva primeiro-ministro Nerendra Modi a cancelar visita a Portugal. Boris Johnson também cancelou a visita à Índia que tinha agendada para a semana que vem.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, não vai participar presencialmente na Cimeira União Europeia-Índia, prevista para 8 de Maio no Porto, disse nesta segunda-feira à Lusa fonte da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
“Os trabalhos de preparação da cimeira decorrem normalmente, mas, tendo em conta a situação pandémica na Índia, o primeiro-ministro Modi não virá presencialmente ao Porto”, disse a fonte. “Estamos a trabalhar com as instituições europeias e o governo da Índia para que a cimeira aconteça por videoconferência, com os chefes de Estado e de Governo da UE presentes fisicamente no Porto”, acrescentou.
A cimeira do Porto, que agora deve ser sobretudo do ciberespaço, é uma das prioridades da presidência portuguesa do Conselho da UE, numa altura em que a Europa procura alternativas à China. Portugal e a Índia esperam relançar as negociações sobre comércio e investimento entre a UE e o subcontinente indiano. A expectativa foi reforçada nesta terça-feira pela ministra das Finanças indiana, Nirmala Sitharaman, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, após uma reunião por videoconferência.
O agravamento da pandemia na Índia também levou ao cancelamento da visita que o primeiro-ministro britânico tinha agendada para a semana àquela antiga colónia, onde o surgimento de uma estirpe de dupla mutação está a preocupar os especialistas. Num comunicado conjunto, Boris Johnson e Narendra Modi afirmam que vão continuar em contacto na expectativa de, no final do mês, fecharem o acordo de parceria que a Índia também quer estabelecer com o Reino Unido.
Nas últimas semanas, a segunda vaga de infecções na Índia superou recordes de novos casos, com alguns dias a registarem mais de 200 mil casos de covid-19 em apenas 24 horas e várias cidades a anunciarem novos confinamentos. O total de infecções do país apenas é superado pelos EUA, e o total de mortes surge em quarto lugar no ranking mundial, atrás dos EUA, Brasil e México.
A situação sanitária reflecte-se em vários hospitais do país, que já acusam falta de oxigénio e de camas. “No ano passado, não assistimos a uma situação tão grave. Desta vez, os números são muito altos e estão a aumentar muito rapidamente, a situação é alarmante”, disse o director médico Suresh Kumar, do hospital Lok Nayak Jai Prakash Narayan, em Nova Deli. Aqui, num dos maiores hospitais que recebem pacientes positivos, testemunhas ouvidas pela Reuters avistaram alguns pacientes a partilhar camas nalgumas alas.
Também a produção de oxigénio do país tem atingido a capacidade máxima nos últimos dois dias, sem, no entanto, ser suficiente. A Índia terá de recorrer às importações, plano que o ministro da Saúde já anunciou para importar 50 mil toneladas métricas de oxigénio. “Se estas condições persistirem, o número de mortes vai continuar a aumentar”, alerta o chefe de um conselho médico da cidade de Ahmedabad, citado pela Reuters.
Os culpados, para os especialistas, tanto são a complacência do Governo como as novas variantes. Segundo o virologista Shahid Jamil, referido na Associated Press, as festividades religiosas e actividades políticas também potenciaram o contágio. Ainda na quarta-feira, centenas de milhares de pessoas festejaram o festival Hingu perto do rio Ganges. Já o Governo de Modi critica o incumprimento da distância social.