União Europeia discute alegada ligação russa a explosão na República Checa em 2014

Polícia checa procura entretanto suspeitos com passaportes em nome de Alexander Petrov e Ruslan Boshirov. São os mesmos que o Reino Unido acusou da tentativa de envenenamento do antigo espião Sergei Skripal em 2018.

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Embaixada da Rússia em Praga. A República Checa expulsou 18 funcionários DAVID W CERNY/Reuters

A República Checa disse este domingo que informou a NATO e a União Europeia sobre o suspeito envolvimento da Rússia numa explosão de um depósito de armas em 2014, e que o assunto será discutido numa reunião de ministros de Negócios Estrangeiros da UE esta segunda-feira.

Praga expulsou 18 elementos da embaixada russa no dia anterior depois de investigações terem sugerido uma ligação de Moscovo à explosão, que matou duas pessoas. Horas depois, a Rússia anunciou a expulsão de 20 diplomatas checos.

Separadamente, a polícia checa disse ainda que procura dois homens suspeitos de actividade criminosa grave, que usaram passaportes russos com os nomes de Alexander Petrov e Ruslan Boshirov. Os dois homens estavam no país nos dias anteriores à explosão de 2014.

São estes os nomes usados por dois agentes dos serviços secretos militares russos (GRU) que foram acusados por procuradores britânicos de terem levado a cabo a tentativa de envenenamento do antigo espião russo Sergei Skripal e da sua filha Yulia, com o agente de nervos Novichok, na cidade inglesa de Salisbury em 2018. Moscovo negou estar por trás da tentativa de assassínio.

E também nega qualquer ligação à explosão na República Checa. Reagindo às expulsões dos funcionários da embaixada, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, disse aos media russos: “Praga sabe bem o que se segue a este tipo de jogos.” Mais tarde, o MNE disse que era difícil não ver “mão dos EUA” nas alegações.

A agência Interfax cita Vladimir Dzhabarov, o vice-presidente da comissão de assuntos internacional da câmara alta do Parlamento russo, que disse que as alegações checas eram “absurdas” e que a resposta da Rússia devia ser “proporcional”.

As expulsões, e as alegações, são o maior foco de controvérsia e tensão entre a República Checa e a Rússia desde 1989, quando Praga deixou de ser dominada pela União Soviética após quatro décadas de comunismo.

O incidente acontece quando aumentam as preocupações sobre uma grande deslocação de tropas da Rússia para as suas fronteiras ocidentais e para a Crimeia, que Moscovo anexou em 2014, na sequência de uma escalada nos confrontos entre separatistas apoiados pela Rússia e forças governamentais da Ucrânia no Leste do país.

No domingo, a Comissão Europeia confirmou a afirmação do ministro interino dos Negócios Estrangeiros da República Checa, Jan Mamacek, no Twitter, de que a questão ia ser acrescentada à agenda de uma reunião, já antes programada, dos ministros dos Negócios Estrangeiros na segunda-feira.

Os Estados Unidos e o Reino Unido disseram estar solidários com a República Checa na disputa com a Rússia.

Praga, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, “expôs até onde vai o GRU nas suas tentativas de conduzir operações perigosas e nefastas”.

A embaixada dos EUA em Praga declarou apreço pela “acção significativa da República Checa para impor custos à Rússia pelas suas acções perigosas em solo checo”. O Presidente dos EUA, Joe Biden, propôs recentemente ao líder russo, Vladimir Putin, uma cimeira, num país terceiro, para discutir “o grande leque” de questões entre os dois países. 

Os EUA impuseram, na quinta-feira, sanções à Rússia pela interferência do país nas eleições do ano passado, por hacking, pela sua acção na Ucrânia, e outras acções, levando Moscovo a retaliar.

Concurso para centra nuclear

O foco de tensão entre a República Checa e a Rússia acontece numa altura sensível para a relação entre os dois países. O Governo checo está a planear abrir um concurso para uma nova central nuclear, de milhares de milhões de euros, e os serviços de segurança pediram que a Rússia seja excluída deste concurso por poder constituir um risco para a segurança do país.

O Presidente, Milos Zeman, e outros responsáveis têm defendido que seja dada uma hipótese à Rússia. O ministro da Indústria, Karel Havlícek, disse no sábado que esta revelação pode afectar o processo.

O presidente da câmara alta do Parlamento checo, Milos Vystrcil, declarou que o incidente pode constituir “terrorismo de Estado”. “Se se confirmar, temos de o considerar um acto grave de agressão e hostilidade, que pode ser classificado como um acto de terrorismo de Estado”, disse Vystrcil, da oposição de centro-direita.