Kiev acusa Moscovo de “ameaçar a Ucrânia com a destruição”

EUA recuaram no envio de dois navios de guerra para o mar Negro, mas o aumento da tensão na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia não dá sinais de abrandar. Moscovo promete responder a novas sanções norte-americanas.

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Na quarta-feira, o Exército ucraniano realizou exercícios na fronteira com a Rússia Reuters/General Staff of the Armed Force

O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, acusou a Rússia de ameaçar a Ucrânia com a guerra e com a destruição da sua soberania e disse que Moscovo “vai sofrer se ultrapassar a linha vermelha”.

A declaração de Kuleba, noticiada pela agência AFP, foi feita numa conferência de imprensa que decorreu esta quinta-feira. E surge num momento particularmente sensível do conflito no Leste da Ucrânia, perante o reforço da presença militar russa na fronteira e os avisos dos Estados Unidos e da NATO para que Moscovo retire as suas tropas da região.

Segundo a Rússia, os soldados estão a realizar um exercício que ficará concluído até ao final de Abril, em resposta ao que Moscovo vê como o aumento da ameaça dos EUA e da NATO contra o seu território através de um reforço da presença militar nos Estados bálticos e na Polónia.

Fronteira é “linha vermelha”

Na quarta-feira, o ministro da Defesa da Ucrânia, Andrii Taran, disse que a Rússia está a deslocar um total de 110 mil soldados para a fronteira ucraniana. Numa visita ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, Taran disse também, sem apresentar indícios ou provas, que Moscovo pode estar a preparar-se para pôr armas nucleares na península da Crimeia.

Esta quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano aumentou a pressão sobre a Rússia, ao condenar “o agravamento da situação de segurança por iniciativa de Moscovo, com acções e declarações que têm como objectivo aumentar a tensão militar e sabotar os esforços diplomáticos para resolver o conflito entre a Rússia e a Ucrânia”.

“Para a Ucrânia, a linha vermelha é a fronteira”, disse Dmitro Kuleba. “Se a Rússia ultrapassar a linha vermelha, terá de sofrer.”

Com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em Janeiro, os EUA assumiram uma postura de maior confronto em relação às acções russas, e ainda esta quinta-feira devem ser anunciadas novas sanções contra dezenas de empresas e indivíduos com ligações ao Presidente russo, Vladimir Putin.

Em resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o país vai esperar para conhecer os pormenores das sanções antes de reagir. Mas afirmou que a Rússia tem o direito de retaliar contra os EUA na mesma medida.

“Condenamos quaisquer intenções de imposição de sanções, que consideramos serem ilegais. Mas, em qualquer caso, aplica-se aqui o princípio da reciprocidade”, disse Peskov.

Na terça-feira, Biden telefonou a Putin para reforçar a posição dos EUA e propor a realização de uma cimeira entre os dois líderes, num país terceiro, que serviria para avaliar posições comuns. Porém, o anúncio da nova ronda de sanções por parte da Casa Branca diminui as hipóteses de essa cimeira vir a acontecer nos próximos tempos, segundo o Kremlin.

Na quarta-feira, soube-se que os EUA cancelaram o envio de dois navios de guerra para o mar Negro, onde essa presença seria vista como uma ameaça à soberania reclamada pela Rússia sobre a península da Crimeia.

O recuo norte-americano – que o país apresentou oficialmente como um “mal-entendido” por parte do Governo da Turquia – pode dar à Rússia uma oportunidade para fazer uma cedência e permitir algum alívio da tensão.

Exercícios simultâneos

A Rússia e a Ucrânia realizaram exercícios militares em simultâneo, na quarta-feira, ao mesmo tempo que os ministros da Defesa da NATO começavam a discutir, com carácter de urgência, o reforço das tropas russas na fronteira.

A Marinha russa ensaiou um ataque contra alvos terrestres e aéreos, no mar Negro, em resposta ao que viu como uma provocação por parte dos EUA quando foi noticiado que Washington ia enviar dois navios de guerra para a região.

Do lado ucraniano, o Exército ensaiou uma resposta a um ataque com tanques e infantaria perto da fronteira com a península da Crimeia.

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